X Assembléia Continental de Ameríndia

De 20 a 23 de julho de 2010, sob o olhar milenar do Cotopaxi, o grupo Ameríndia realizou sua Assembléia Continental, em Quito, Equador. AMERÍNDIA teve sua origem em 1978 preparando a Conferência de Puebla. Um grupo de teólogos se constituiu como assessores dos delegados de Puebla. Um trabalho semelhante o grupo realizou nas Conferências de Santo Domingo, em 1992, no Sínodo de América, em 1997, e em Aparecida, em 2007.
Ameríndia pretende manter e renovar a tradição teológica e pastoral latino-americana e caribenha, e atualizar a teologia da libertação. Juntamente com outras pessoas e grupos, pretende criar alternativas econômicas, políticas, sociais e culturais ao modelo neoliberal de globalização. Hoje, Ameríndia é uma rede de teólogos, comunicadores, educadores, cientistas sociais, religiosos/as e leigos/as comprometidos na Igreja e em movimentos sociais (cf. http://www.amerindiaenlared.org/).
O objetivo dessa X Assembléia era projetar a missão da entidade para os próximos três anos. Para essa finalidade, e a partir da análise social (Manuel Hidalgo) e eclesial (Virgilio Uchoa, Gabriele Cipriani), Paulo Suess foi convidado para oferecer ao grupo de aproximadamente 45 pessoas um discernimento que permita assumir os novos desafios como tarefas teológico-pastorais. Em seu texto “Prospectivas e tarefas desde um olhar crítico sobre os desafios da realidade em vista do “buen vivir” (sumak kawsay) de todos“, Paulo Suess teceu em cinco círculos concêntricos “Elementos para um discernimento teológico”:
- O enfoque dos desafios estruturais e conjunturais da realidade nos permite fazer primeiros discernimentos (1).
- O contexto político-cultural-eclesial dificulta hoje assumir o conflito social como ponto de partida para a reflexão teológica. A “ação afirmativa” substituiu ação e reflexão crítica na sociedade e nas Igrejas. Precisamos, portanto, recuperar o espírito crítico e, profeticamente, desafinar o coro dos contentes e coniventes (2).
- Para dar um fundamento sólido à crítica profética do nosso agir teológico devemos recorrer à revelação no plural (bíblia, sabedoria dos povos, sinais do tempo) e aos ensinamentos inovadores do Vaticano II e seus desdobramentos no magistério latino-americano (3).
- A interpretação teológica e prático-pastoral do Concílio nos envolve numa disputa sobre as diferentes leituras possíveis, leituras em chave de continuidade e continuísmo, e de ruptura ou prosseguimento criativo (4).
- Por fim, Paulo Suess procurou, a partir do novo paradigma sócio-planetário e ameríndio do “buen vivir” (sumak kawsai) dos pobres e de seu entrelaçamento com justiça maior do Evangelho, elencar alguns núcleos para a produção teológica e ética solidária dos próximos anos (5).
- Um destes núcleos éticos de uma nova civilização, é o desprendimento. Esse desprendimento em sua forma individual pode ser compreendido como conversão e ascese, em sua forma comunitária ou sociopolítica, como ruptura e solidariedade. O desprendimento como descontentamento profético emerge da consciência de que “remendos novos em odres velhos” não mudarão o curso da História.
Depois da Assembléia, alguns dos participantes tiveram ainda a graça de visitar a “Capela do Homem”, obra de Oswaldo Guayasamin. Trouxemos dois retratos que podem ser considerados como lembretes e imperativos da nossa solidariedade teológica: “Ternura” e “Lágrimas de Sangue”.
Fotos: Quito; Oswaldo Guayasamin, "Ternura", Capela do homem, Quito; Oswaldo Guayasamin, "Lágrimas", Homenagem a Salvador Allende, Pablo Neruda, Victor Jara (essas mãos representam a máscara do silêncio imortalizada no tempo, ocultando a verdade que está na arte de fazer política e literatura, e no canção da vida).

O povo Tupinambá que sofre da violência

No dia 02 de junho de 2009, quatro homens e uma mulher do povo Tupinambá foram detidos e agredidos por agentes da Polícia Federal (PF) em Ilhéus, Estado da Bahia. Todos foram algemados, imobilizados no chão e receberam fortes doses de um produto químico nos olhos, conhecido como "gás pimenta". Em seguida os índios foram espancados e três deles receberam choques elétricos nas costas e dois deles, nos órgãos genitais. Estas agressões, com características de crueldade e tortura visavam intimidar os índios para não permanecerem na posse da terra que tradicionalmente ocupam e que está invadida por um pretenso fazendeiro. Além disso, os policiais federais tinham o objetivo de forjar a confissão pelo assassinato de um homem, cujo corpo foi encontrado pelos próprios indígenas na represa da fazenda Santa Rosa.

Ação da Polícia Federal junto aos Tupinambá da Terra do Padeiro I


TRISTE TITULO

“No contexto político e econômico brasileiro e, em particular do Estado do Mato Grosso do Sul, pode-se dizer que o foco é fazer viver os grande proprietários, o grande capital e deixar morrer os povos indígenas” (Relatório de Violência contra os Povos Indígenas 2009, pg17). “Mato Grosso do Sul, campeão de violências contra os povos indígenas. Até Quando?” Assim, há quatro anos atrás, anunciava uma faixa num debate promovido pela CNBB regional, sobre a violência contra os povos indígenas deste estado. De lá para cá todos os anos a faixa continua sendo ostentada , ano após ano, o triste título. Neste ano, uma vez mais, a faixa vai ser desfraldada para dizer ao Brasil e ao mundo que o Mato Grosso do Sul continua sendo o campeão disparado de violências contra os povos indígnas.

Autor: Egon Heck, Campanha-movimento Povo Guarani Grande Povo, Brasília, 9 de julho de 2010

http://www.missiologia.org.br/cms/UserFiles/cms_artigos_pdf_81.pdf

ATEUS E PÓS-SECULARES: dois interlocutores da missão ad gentes

“Estou convencido de que há de se seguir dizendo não,
ainda que se trate de uma voz predicando no deserto”.
(José Saramago)
“Marx diz que as revoluções são a locomotiva da história,
mas talvez seja tudo muito diferente, e as revoluções representem
tentativas da humanidade (...) de puxar o freio de emergência”.
(Walter Benjamin)

O diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura da Conferência Episcopal Portuguesa, o padre José Tolentino, declarou que com a morte de José Saramago, dia 18 de junho p. p., Prêmio Nobel de Literatura de 1998 e ateu confesso, “a Igreja perde um crítico com o qual soube dialogar constantemente”. Nas categorias do censo do CERIS, de 2004, com enfoque na migração religiosa, Saramago pertence ao pequeno grupo de 7,8% dos que se declaravam “sem religião”. Na pesquisa do CERIS, os “sem religião” são compostos por cinco categorias diferentes. “Sem religião” pode significar, “possuir uma religiosidade própria sem vínculo com igrejas” (41,4%); pode significar também “não frequentar nenhuma igreja e não possuir crenças religiosas” (29,4%), “não acreditar nas religiões” (15,1%), “não ter tempo para frequentar a igreja” (23,2%), e “não acreditar em Deus” (0,5%). Portanto, dos 7,8% “sem religião”, só meio porcento se declara ateus.

Autor: Paulo Suess

Leia mais: http://www.missiologia.org.br/cms/UserFiles/cms_artigos_pdf_80.pdf