A MEMÓRIA DOS MÁRTIRES ESTÁ NO CORAÇÃO DOS POBRES

Santo súbito:
São Romero, São Sepé, Santa Maria Alves, Santo Dias.
Apelo ecumênico para o dia 1º de maio de 2011.



Um grupo ecumênico popular escolheu o dia 1º de maio de 2011 para declarar a canonização de São Romero da América pelos pobres. O grupo queria, certamente, colocar João Paulo II em boa companhia. No mesmo dia, o papa Wojtyla será beatificado pelas instâncias romanas. Quem diria: Dom Oscar Arnulfo Romero e João Paulo II, abraçados, como amigos, entrando no panteão dos santos! Sabe-se lá porque em vida esse abraço foi negado a Oscar Romero.
Quando, no meio dos avisos paroquiais, esse fato é comentado pelo pároco da Igreja dedicada a Santo Expedito, uma voz mansa, nos fundos do templo, pergunta: “Não teríamos, ao lado do Santo Padre, também um padre santo ou uma madre santa para beatificar ou para canonizar, de vez?”

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Galdino Pataxó

“Sim senhor”, responde um romeiro nordestino, sexagenário com voz rouca: “Temos padres e freiras santos: O padre Cícero, o padre Ibiapina (cf. http://www.eduardohoornaert.blogspot.com/), o frei Damião, a irmã Dulce, a irmã Dorothy!”

Minha vizinha, no banco da frente, mulher esclarecida do povo sofrido, mexe-se inquieta e faz uma pergunta simples e direta: “Só têm padres e freiras no céu? E nós, o povo, onde ficamos? Por acaso, ninguém de nós entra na ladainha dos santos?”

“Na ladainha, talvez, não, mas no céu, sim!”, responde um jovem afoito da PJ, descendente dos guarani da região de Itanhaém, litoral sul de São Paulo. E ele começa a falar de São Sepé (1756), de Ajuricaba, de Zumbi (1695), dos mártires do Quilombo dos Palmares, de Marçal Guarani (1983), de Margarida Maria Alves (1983), da líder Rose, na ocupação da Fazenda Anoni (1985), do Pataxó Galdino Jesus dos Santos (1997) e de Santo Dias (1979).
Rose, líder na ocupação da fazenda Anoni, 1985
E nosso jovem da PJ acrescenta: “Ao menos este último deveria ser santo súbito”. Depois justifica: “Nasceu como filho de Jesus, filho de Jesus Dias da Silva e Laura Amâncio Vieira. Foi batizado como `Santo´ e morreu como mártir, dia 30 de outubro de 1979, assassinado pela PM na porta da fábrica Sylvânia, de São Paulo, dando apoio aos seus colegas em greve. Seu corpo foi velado na Igreja da Consolação. No dia 31 de outubro, 30 mil pessoas saíram às ruas da Capital para acompanhar o enterro e protestar contra a morte do líder operário, pelo livre direito de associação sindical e contra a ditadura.

O presidente do Conselho Paroquial fecha a reunião com uma invocação de santos populares, ligados ao 1º de Maio, dia do trabalho, da trabalhadora e do trabalhador: "Santo Dias, (todos) rogai por nós. Santa Margarida Maria Alves, rogai por nós. São Romero das Américas, rogai por nós!”

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