COMPREENDER A MISSÃO PERMANENTE

Significado do Domingo da Missão



Vivemos num mundo fugaz. As relações humanas se tornam cada vez mais passageiras, os contratos de trabalho são “temporários” e as tomadas cinematográficas curtas. “Ficar” entre os jovens significa o contrário, significa não ficar ou ficar por uma noite. Nada mais. Quem fica realmente são as mães; ficam com os filhos aidéticos (até a morte), com os maridos alcoólatras, com os netos abandonados. Quem faz visita na prisão, domingo à tarde, são as mães. A missão permanente que está ligada a uma causa universal, está na contramão dessa fugacidade. Missão permanente significa solidariedade em longo prazo.
Aparecida nos advertiu, que a Missão Continental “procurará colocar a Igreja em estado permanente de missão” (DAp 551). A “Missão Continental” não é uma redução da missão universal para uma unidade menor. Pelo contrário, “Missão Continental” significa mobilização de um continente para a missão universal. E essa universalidade tem uma dimensão geográfica (confins do mundo) e uma dimensão temporal (confins do tempo, escatológica). A missão permanente é uma dimensão da missão universal e como tal, expressão de solidariedade e esperança.
Desde o Vaticano II assistimos não um relaxamento da missão, mas a sua radicalização. A kenose da missão está no seu despojamento colonial da territorialidade e da incorporação de números e territórios. O Vaticano II nos fez a proposta de passar da territorialidade da missão à essência missionária da Igreja, assumindo a sua dimensão trinitária que é envio por amor.
Na origem do Concílio Vaticano II (1962-1965) estão dúvidas sobre a missão da Igreja no mundo de hoje e perguntas sobre a maneira de anunciar a mensagem cristã e de vivê-la com relevância para a humanidade.
Como traduzir os artigos de fé, os sinais de justiça, as imagens de esperança e as práticas de solidariedade para os interlocutores “mundo” e “humanidade” que os consideram, em seu significado simbólico, incompreensíveis, em seu conteúdo, irrelevante, e, em sua aparência, folclóricos?
O Concílio iniciou processos que livraram a missão de fixações a territórios geográficos e fizeram a Igreja descobrir a sua natureza missionária. A partir dessa natureza, procurou reconstruir a sua identidade como povo de Deus, povo messiânico e peregrino. Nos processos que levaram à redefinição da missão, observa-se um deslocamento de uma Igreja que tem missões territoriais, pelas quais faz coletas e pede orações, para uma Igreja na qual a missionariedade representa a orientação fundamental de todas as suas atividades, visando gratuidade, solidariedade, esperança.
Paulo Suess

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