MIGRAÇÃO DA CAUSA PARA CASOS

Esvaziado, Fórum Social termina 
sob crise existencial


Criado em 2001 como contraponto de esquerda à cúpula econômica de Davos, o Fórum Social Mundial encerra hoje (28.1.) sua 11ª edição esvaziado e com dúvidas sobre a própria capacidade de manter alguma relevância no cenário internacional. O clima de crise existencial marcou o evento em Porto Alegre, que recebeu a primeira visita de Dilma Rousseff como presidente, mas foi ignorado por líderes estrangeiros e ganhou ares de congresso do PT. Um dos idealizadores do fórum, o ativista Chico Whitaker expôs o desconforto na sexta-feira, em desabafo que surpreendeu a plateia acostumada com discursos empolgados sobre a derrocada iminente do capitalismo. Ele disse que o encontro não conseguiu se conectar a novos fenômenos como os movimentos de "indignados", que passaram a ocupar ruas na Europa e nos EUA. "Temos que mudar de estratégia. Hoje concordamos em tudo e saímos daqui satisfeitos com nós mesmos. Precisamos inventar uma maneira de começar a falar com os 99% que estão insatisfeitos", disse Whitaker.
Anunciado como evento preparatório para a Rio+20, o Fórum deste ano não conseguiu articular um consenso sobre a melhor forma de preservar o planeta. Enquanto ambientalistas recitavam o discurso de defesa das florestas, intelectuais de esquerda alertavam que a causa seria usada pelo G8 para barrar o crescimento dos países emergentes. Sem o FMI ou o governo Bush para combater, o fórum elegeu como alvo a ação da PM paulista em Pinheirinho. [...]
FALTA DE PÚBLICO
O fórum teve números modestos mesmo para a versão temática. Segundo a organização, 40 mil pessoas teriam participado, mas só 7.000 chegaram a se inscrever.
O acampamento para jovens não lotou, a marcha de abertura foi dominada por claques de centrais sindicais e as barraquinhas de livros marxistas e camisetas de Che Guevara praticamente sumiram da paisagem. [...] O presidente uruguaio José Mujica, convidado para debater com Dilma, cancelou a viagem. O boliviano Evo Morales e o venezuelano Hugo Chávez, que bateram ponto em anos anteriores, também não apareceram.
[Fonte: BERNARDO MELLO FRANCO, F.d.S. Paulo, 28.1.2012]

A Ordem é Despejo e Progresso

Juiz decide por retirada de 170 Guarani Kaiowá da terra indígena Laranjeira Nhanderu


Com a justificativa de que a Fundação Nacional do Índio (Funai) não apresentou o relatório de identificação da Terra Indígena Laranjeira Nhanderu, onde vivem 170 indígenas Guarani Kaiowá em área invadida pela Fazenda Santo Antônio, municipipio de Rio Brilhante, MS, o juiz que cuida do caso decidiu pela retirada dos indígenas, que em tese terão de voltar para o acampamento na beira da rodovia.





“Em primeiro lugar, queremos contar a todos os juízes e sociedades que estamos coletivamente em estado de medo, desespero e dor profunda. Já sobrevivemos em situação mísera e perversa há várias décadas. Hoje, no dia 26/01/2012, nós compreendemos claramente, que não temos mais chances de sobreviver cultural e nem fisicamente neste país Brasil. visto que em qualquer momento seremos despejados de nossa área antiga reocupada por nós, portanto estamos com muita tristeza e perplexos, ao receber esta notícia da oficial de Justiça e da Polícia Federal e da FUNAI. Já estávamos com a alegria praticando o nosso ritual sagrado dia-a-dia aqui em minúscula terra antiga reocupada Ñanderu Laranjeira em que retornamos nos últimos dois anos”. (Carta da Comunidade Laranjeira Nhanderu aos Juízes do Brasil)

O portão fechado aos índios e seus aliados, abre-se como por encanto aos homens da lei e da ordem. O oficial de justiça, escoltado pela polícia federal e Funai, é portador de mais um decreto de medo e de condenação. A nova ordem de reintegração de posse é mais uma punhalada na pequena comunidade Kaiowá Guarani do Mato Grosso do Sul.

Quem acompanhou a saga de violência sofrida por essa comunidade nativa dessa região em sua dura e sofrida luta pela sobrevivência, certamente terá que se perguntar que país é esse que (mal)trata seus primeiros habitantes com tamanha covardia e crueldade. É a lei do mais forte se impondo, em nome do rei e da lei, da ordem e do progresso.

Quando, em 2011, o agronegócio e sua lógica de produção a qualquer custo, com muito agrotóxico e agressão à mãe terra, deflagraram a campanha “Produção Sim, Demarcação Não”, estavam apenas explicitando a lógica perversa da negação das terras indígenas. E não tem sido outra a atitude do governo federal quando tem destinado bilhões para acelerar o agronegócio e a agroindústria, especialmente na produção da soja e do etanol. Isso através do bem aventurado programa do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento.

Enquanto isso a propalada e dezenas de vezes adiada regularização das terras indígenas andavam a passos de tartaruga, sob constantes atropelos judiciais e o Senado procura mudar a Constituição, chamando para si a responsabilidade de decidir sobre a definição e demarcação das terras indígenas.

Memória do massacre, sofrimento e esperança

A comunidade Kaiowá Guarani de Laranjeira Nhanderu , desde dia 11 de setembro de 2009, vem vivendo uma longa “via crucis”. Despejada para a beira da estrada, BR 163, ali conviveram com toda espécie de sofrimento, passando por momentos com seus barracos inundados, sob a implacável agonia do sol, do frio e da chuva. Tiveram pelo menos três de seus membros mortos por atropelamento. Seus idosos e crianças convivem com o medo diário do ronco dos carros.

Passaram heroicamente por todo esse massacre diário, sem jamais perder a esperança de um dia terem seus direitos respeitados e sua terra garantida. Essa situação chegou ao conhecimento nacional e internacional através das inúmeras visitas de delegações de solidariedade, desde os trabalhadores rurais sem terra até a presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. De representantes da Presidência da República a representantes de instituições internacionais de Direitos Humanos e defesa das populações indígenas.

Foi um ano e meio de travessia pelo deserto do sofrimento, que fez dessa comunidade um lugar especial de celebração da esperança, de afirmação da cultura, de luta com dignidade pela vida presente e futura.

Diante da morosidade de solução da questão da terra e fartos de promessas não cumpridos, retornaram à sua terra em maio do ano passado, com a certeza de que Nhanderu e os espíritos de seus guerreiros ancestrais lhes garantiriam sua terra tradicional. É o que vemos no veemente depoimento de Dona Adelaide. http://www.youtube.com/watch?v=jnO_gdu19VU

“Queremos sobreviver culturalmente e fisicamente aqui, queremos proteção e apoios vitais das Justiças do Brasil para garantir a nossa nova geração guarani-kaiowá neste país sem vítimas de violências perversas.”(idem carta)

Egon Heck
Povo Guarani Grande Povo - Janeiro de 2012



A Pastoral dos Migrantes explica em Nota a situação dos Haitianos




Haiti, um país empobrecido, destruído: Historicamente o Haiti foi expropriado pelo sistema colonial. Não obstante, foi o primeiro país da América Latina e a primeira República negra a tornar-se independente. Mas, por décadas, grandes potências sustentaram ditaduras político-econômicas e desestabilizaram quaisquer iniciativas de democratização e justiça no país, inviabilizando a promoção de um desenvolvimento socioeconômico que possibilitasse vida e trabalho dignos à população. Nesse contexto, milhares de haitianos são forçados a migrar para fugir da pobreza.
Terremoto e ajuda humanitária: Em janeiro de 2010, um terremoto devastou o Haiti. Cerca de 3,5 milhões de pessoas (1/3 da população) foram atingidas e a migração se intensificou. Após o terremoto, houve uma mobilização internacional e a Organização das Nações Unidas (ONU) indicou o Brasil para coordenar a ajuda humanitária ao Haiti auxiliando na organização da infraestrutura social. Além disso, à época, o então Presidente Lula abriu as portas do Brasil aos haitianos que desejassem reconstruir suas vidas. Compromisso este mantido pela Presidenta Dilma Rousseff.
Lentidão da ajuda humanitária, discriminação internacional? Dois anos após o anúncio da ajuda humanitária internacional, muito pouco da infraestrutura social do Haiti foi recuperada.  Curiosamente, EUA e Japão que também sofreram catástrofes, se recuperaram rápido. Isto sugere algumas questões. A lentidão da ajuda humanitária ao Haiti estaria relacionada à negritude do seu povo? Discriminação internacional? Que papel as tropas militares brasileiras tem desempenhado na reconstrução social do Haiti? Como elas estão atuando? Para além do terremoto, um problema social maior grassa desde a colônia até os dias atuais, qual seja: o empobrecimento do Haiti, a corrupção e a prática de políticas unilaterais que bloqueiam sua reconstrução social e democrática.

Intensificação da migração, clandestinidade e contrabando de pessoas: estes são alguns dos desdobramentos do terremoto e da ineficiente ajuda humanitária. Sem documentação, os haitianos entram no Brasil sofrendo humilhações, abusos, roubos, etc. Em sua rota, passam pela República Dominicana, Panamá, Equador, Peru, até chegar a Tabatinga e Brasileia – fronteira brasileira – onde aguardam a concessão de um ‘Pedido de Visto de refugiado’.  Depois, seguem para Porto Velho, Manaus e outras regiões brasileiras. Toda esta viagem custa cerca de quatro mil dólares, pagos aos “coiotes”. Ademais, a Pastoral dos Migrantes vem constatando que muitos haitianos não procedem diretamente do Haiti, mas de outros países em crises econômicas e de empregos. O Governo do Acre assiste parte desses imigrantes. No entanto, já sinalizou que não têm mais condições de fazê-lo.
Presença da Igreja e acolhida: A Igreja Católica, através das Congregações Scalabrinianas (Irmãs e Padres) e da Pastoral dos Migrantes (SPM) esforça-se para acolher esses imigrantes viabilizando-lhes casa, alimentos, remédios, cursos de língua portuguesa, cursos profissionalizantes, e, encaminhando-os para postos de trabalho em Manaus, Rondônia, Acre, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais.




Restrição à migração e contradições nacionais: Constatando que imigrantes haitianos ingressam no Brasil de forma contrabandeada, o Estado brasileiro decidiu restringir as entradas a um número de 1.200 por ano. Para o governo, essa decisão inibiria os “coiotes” e controlaria a imigração haitiana. São muito importantes e necessárias as ações de combate ao contrabando de pessoas, mas, o Estado brasileiro não deixa claros os critérios para a concessão de “Vistos” e desconsidera que a restrição à imigração implica a intensificação da migração indocumentada, na violação de direitos humanos e abre caminho para a migração seletiva que prioriza profissionais qualificados. Nesse sentido, o que se percebe é uma contradição nos compromissos humanitários assumidos.
Reconstrução do Haiti, uma proposta para a ajuda internacional humanitária: As condições em que ocorre a imigração haitiana devem ser enfrentadas com firmeza pela ajuda humanitária internacional, sempre resguardando a defesa e promoção dos direitos humanos e a solidariedade. Nesse sentido, uma ação fundamental é a imediata reconstrução das organizações socioeconômicas do Haiti, criando condições para que as pessoas possam escolher MIGRAR ou FICAR em seu país.
Nesse sentido, propomos ao Governo brasileiro que:
Campo de refugiados
1 – O Governo do Brasil – em visita ao Haiti, prevista para o início de fevereiro 2012 – desencadeie e coordene uma campanha internacional para a imediata reconstrução do Haiti em suas bases sociais, econômicas, culturais e ambientais, criando condições concretas para que os haitianos possam escolher entre MIGRAR ou exercer seu direito de FICAR no seu país com dignidade humana. Sem essas condições, documentadas ou não, as pessoas continuarão a migrar para fugir da pobreza e tentar reconstruir suas vidas em outros países;
2 – A ajuda humanitária internacional auxilie na organização política e social do Haiti, viabilizando a ampla participação da população em processos decisórios de forma democrática e multilateral, impedindo que políticas unilaterais – que ainda grassam no Haiti – bloqueiem a reconstrução política, social e econômica sustentável do país;
3 – O Governo do Brasil formule e implemente políticas migratórias que privilegiem o bem estar da pessoa humana em suas bases políticas, sociais, econômicas, culturais e ambientais;
4 – O Governo do Brasil seja signatário da Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas Famílias - Adotada pela Resolução 45/158, de 18 de Dezembro de 1990.
Reafirmamos nosso compromisso de permanecer apoiando a luta dos migrantes por dignidade, justiça e protagonismo político, social, econômico, cultural, religioso, ambiental, etc. Colocamo-nos à disposição de apoiar o Estado brasileiro na elaboração e implementação das ações sugeridas.
SPM - Serviço Pastoral dos Migrantes
São Paulo, Janeiro de 2012

Cracolândia - um presente de aniversário que São Paulo não mereceu


Todo aniversariante ganha um presente. O arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, disse que a operação desencadeada na cracolândia neste início de ano é um "presente" para a cidade. Ao lado do prefeito Gilberto Kassab, Dom Odilo visitou (21.1.) o chamado “Complexo Prates”, que deveria atender dependentes químicos. O "Complexo Prates" não é de Édipo, nem de inferioridade. É simplesmente o "Complexo Prates de Kassab", caixa vazia, simulação de promessa cumprida.
O cardeal de São Paulo considerou como necessária a intervenção da Polícia Militar. Como se sabe, o “presente” foi uma intervenção militarizada, cuja meta era liberar a área para a indústria imobiliária. A farsa comprovou-se na visita do “Complexo Prates”, um galpão vazio para dar a assistência médico-sanitária aos fugitivos de Cracolândia.


"Eu fico feliz que, neste ano, o aniversário da cidade possa ser coligado com este fato, com este presente à cidade", disse Dom Odilo. "Que o aniversário de 2012 possa ficar marcado por essa intervenção numa ferida. Nunca uma intervenção numa ferida é indolor, mas que seja para sua cura, para sua superação."
Integrantes da administração Kassab comemoraram a declaração, um contraponto às críticas feitas pelo padre Júlio Lancelotti, que classificou como "tortura" a política de "dor e sofrimento" empregada na operação. Questionado sobre a inauguração de todo o complexo, o prefeito Gilberto Kassab disse que ele ocorrerá ao "longo de março". Não garantiu nem mesmo o funcionamento da parte assistencial, anteriormente dada como certa para fevereiro. Segundo ele, não era preciso esperar a conclusão da obra para iniciar a dispersão dos pontos de venda e consumo de drogas no centro. Para o prefeito, a estrutura do município para abrigar moradores de rua e dependentes químicos já atende à demanda.
"Complexo Prates" de Kassab
Balanço divulgado sexta-feira (20) mostra que a Polícia Militar já realizou 6.924 abordagens a pessoas na região da Cracolândia, no Centro de São Paulo, desde 3 de janeiro, quando teve início a chamada operação de “combate ao tráfico”. “Presente” ou “tortura”? São Paulo não merece.
[Colaboraram nesta matéria: Reinaldo Azevedo, Wálter Fanganiello Maierovitch, Rogério Pagnan (F.d.S.P., 22-01-2012) e g1.globo.com. Fotos: Tadeu Meniconi/G1].

DO CORDEL: BIG BROTHER BRASIL - UM PROGRAMA IMBECIL



Autor: Antonio Barreto
[...]
Há muito tempo não vejo
Um programa tão 'fuleiro'
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.
[...]
Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.
[...]
Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.


Respeite, Pedro Bienal
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Da muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.
[...]
Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.
[...]
E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.
  
Antonio Barreto nasceu nas caatingas do sertão baiano, Santa Bárbara/Bahia-Brasil. Professor, poeta e cordelista. Graduado em Letras Vernáculas e pós-graduado em Psicopedagogia e Literatura Brasileira.

Participação da Itaipu na Operação Condor durante a ditadura


Progresso na barbárie


Arquivos mostram a colaboração dos responsáveis pela construção da usina hidrelétrica de Itaupu na caça, espionagem, repressão, delação e assassinatos de cidadãos brasileiros e paraguaios (e também uruguaios e argentinos) durante as ditaduras do Cone Sul. Pesquisas realizadas pelo escritor e jornalista Aluízio Palmar, fluminense radicado no Paraná e autor de Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?, e pela Mestre em História pela PUC-SP, Jussaramar da Silva, têm dado, nos últimos anos, mais uma medida de como conhecemos pouco acerca da operação molecular do aparato repressivo da ditadura militar brasileira (1964-1985).

As pesquisas, feitas na Delegacia da Polícia Federal em Foz do Iguaçu (PR), no Arquivo do DOPS do Paraná e no Centro de Documentación y Archivo para la Defensa de los Derechos Humanos del Palacio de Justicia, no Paraguai, também conhecido como Arquivo do Terror, mostram a estreita colaboração das empreiteiras responsáveis pela construção da usina hidrelétrica de Itaupu na caça, espionagem, repressão, delação e assassinatos de cidadãos brasileiros e paraguaios (e também uruguaios e argentinos) durante as ditaduras do Cone Sul. Palmar vem publicando textos sobre o assunto nos últimos anos, Jussaramar defendeu sua dissertação em 2010 e anteontem foram publicados outras provas no site Documentos Revelados. Mas o assunto não tem sido tratado com muita atenção pela imprensa brasileira.

Essas pesquisas revelam que de 1973 a 1988 Itaipu foi um reduto de militares e policiais torturadores. Durante a ditadura, as AESIs (Assessorias Especiais de Segurança e Informações), vinculadas à Divisão de Segurança e Informações (DSI) e subordinadas ao Serviço Nacional de Informações (SNI), atuavam em instituições públicas como universidades, autarquias e empresas estatais. A AESI instalada na Usina de Itaupu manteve comunicação constante com os serviços de inteligência brasileiro, uruguaio, paraguaio e, a partir de 1976, argentino. Também trabalhou diretamente em sequestros e assassinatos.

O trabalho de Jussaramar da Silva aprofundou a compreensão do extenso envolvimento de Itaipu no terrorismo de Estado. A AESI-Itaipu não apenas espionava, coletava informações e delatava cidadãos para os serviços de informação brasileiro e cone-sulistas. Ela também cumpria o papel de torturar e matar ou ?desaparecer? suspeitos de atividades ?subversivas? (conceito que, durante a ditadura, como sabemos, era bastante elástico). Entre os inúmeros exemplos, está a informação de que os militares brasileiros responsáveis pelo sequestro e assassinato do médico ortopedista argentino Agostín Goiburú eram vinculados à Assessoria Especial de Segurança e Informações de Itaipu.

No próprio canteiro de obras da usina, operava um aparelho paralelo mantido pelo consórcio de construtoras Unicon, que realizava as ações mais secretas de tortura, assassinato e desaparecimento. Ao contrário das AESIs localizadas, por exemplo, em universidades, que se ocupavam ?somente? da espionagem e da delação, a AESI de Itaipu foi também um braço armado da ditadura militar. É mais um exemplo do que poderíamos chamar a dimensão molecular do terrorismo de Estado, seus desdobramentos cotidianos do próprio bojo do projeto de ?desenvolvimento nacional? impulsionado pelos militares.

Ainda falta muito, mas a cada peça que se desarquiva, ilustra-se de novo o axioma benjaminiano acerca da inseparabilidade entre documentos de civilização (ou de cultura) e documentos de barbárie. Subjacente às grandes obras do progresso, como sua condição de possibilidade silenciosa, há sempre um rastro de sangue. Essa lição não cessa de reiterar sua atualidade.

Especulação imobiliária na Cracolândia

Quem não vive na capital paulista e vê as notícias sobre a revoada de almas esquecidas que ainda resistem nos bairros de Campos Elíseos e Luz, onde a Caixa de Pandora da Cracolândia paulistana vem sendo aberta após décadas de descaso, talvez não entenda por que os governos do Estado e da cidade de São Paulo adotaram medida tão impressionantemente desastrada.

A ação que espalhou pela maior cidade sul-americana uma legião de verdadeiros mortos-vivos vai formando mini guetos na porta de cada um dos que acharam que poderiam deixar aquele desastre social crescer sem jamais serem afetados.

A diáspora de viciados que as forças policiais sob comando do governador e do prefeito de São Paulo provocaram gerou o que a imprensa vem chamando de “procissão do crack”. Como a operação se limitou a espantar aquelas pessoas da Cracolândia, a PM está tendo que escoltar pelas ruas da cidade grupos de até cem pessoas cada.

As regiões que estão recebendo aqueles que vão sendo tratados como dejetos humanos, reclamam. Segundo o jornal Estado de São Paulo, moradora da outra cidade, do outro país, do outro mundo contíguo ao gueto da loucura reclamou de que “Antes, eles ficavam escondidos. Agora, ninguém tem sossego” E pediu que as autoridades encontrem “algum lugar para levá-los”.

Eis o que acontece com São Paulo. Essa é a mentalidade de uma parcela enorme da sociedade paulista. Os favorecidos pela sorte querem simplesmente ignorar os dramas sociais que uma governança voltada exclusivamente para os mais ricos gerou.

Agora, essa parcela majoritária dos paulistas que mantém há quase vinte anos no controle do Estado e da capital políticos como José Serra, Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab vão percebendo que se deixam seus concidadãos se transformarem nos seres apavorantes que as imagens da Cracolândia mostram, poderão ter que recebê-los a domicílio em algum momento.


Os setores da sociedade paulistana que apoiaram que as autoridades locais deixassem o inferno florescer naquela parte da cidade já estão se perguntando sobre o propósito de uma ação policial que invade um gueto como a Cracolândia somente para espantar dali pessoas com graves problemas mentais que tendem a cometer roubos e até atos de violência sem pensar duas vezes.

Aqueles que trataram a política paulista e paulistana como disputa de futebol entre palmeirenses e corintianos, ao começarem a sentir o que a irresponsabilidade social pode gerar talvez tenham interesse em entender por que os governos estadual e municipal parecem apenas querer tirar daquela região aqueles que ameaçam a si e a todos.

Se quem nunca quis entender agora quiser, eu conto: é a especulação imobiliária, estúpido. O Bairro da Nova Luz é a nova negociata que esse grupo político que sequestrou São Paulo está preparando.

Déjà vu

Pesquisa efetuada pelo blog nos arquivos do jornal Folha de São Paulo revela que a atual estratégia da polícia de São Paulo para a região da cidade conhecida como Cracolândia foi usada em 2000. Já naquela época, a tática de dispersão dos usuários de crack provocou o mesmo problema de sua “pulverização” pela cidade.

O arquivo que o jornal mantém sobre o assunto – e que pode ser acessado pela internet – também mostra que a situação fugiu ao controle do Estado a partir de 2005, primeiro ano da gestão de José Serra na prefeitura  da capital paulista.

O número de matérias que o jornal publicou sobre a Cracolândia desde 2000 mostra quando o problema começou a adquirir a proporção que se vê hoje. Busca da palavra “Cracolândia” no arquivo apresenta 559 resultados, sendo 143 matérias no período que vai de 2000 a 2005 (quase seis anos) e 416 matérias entre 2005 e hoje (quase sete anos).


O número de matérias sobre a Cracolândia aumentou quase 300% a partir de 2005 porque foi a partir de então que o problema se agravou até chegar ao ponto em que está hoje. E o teor dessas matérias, como se verá a seguir, permite inferir que a polícia paulista – e, obviamente, quem manda nela, ou seja, o governo do Estado – e a prefeitura são os grandes responsáveis pelo problema.

O noticiário sobre a Cracolândia acessível nos arquivos da Folha começa em 2000, em plena campanha eleitoral à prefeitura de São Paulo, quando Paulo Maluf e Marta Suplicy disputavam a sucessão de Celso Pitta.

Em 1º de agosto daquele ano, Maluf anunciou que levaria à Cracolândia o ex-comissário de polícia de Nova York Willian Bratton, que, segundo a assessoria do candidato, trabalhara no programa Tolerância Zero, que reduzira a criminalidade na cidade norte-americana, e de quem o candidato pretendia buscar “consultoria” para combater o problema.

Ocorreu, então, um fato um tanto quanto cômico. O medo da violência levou o candidato Maluf a desistir de apresentar a Cracolândia ao ex-comissário de Segurança de Nova York, que viera ao Brasil para isso, e a restringir a programação com ele a “eventos mais seguros”.


Um mês depois, ainda durante a campanha eleitoral em que Marta derrotaria Maluf e se tornaria prefeita de São Paulo, o governador Mario Covas desencadearia uma operação policial na Cracolândia que pretendia ser uma resposta às críticas do adversário de seu candidato, o então vice-governador Geraldo Alckmin, que substituiria Covas no ano seguinte, quando seu câncer se agravaria.

A matéria sobre a primeira “operação sufoco”, levada a cabo há quase 12 anos causa um déjà vu. Se tirarmos datas, nomes das autoridades e dos órgãos, parecerá que foi escrita hoje e que se refere à atual operação do governo do Estado que está sendo levada a cabo na Cracolândia. Fonte: www.blogcidadania.com.br/2012/1

Conceito de humildade: divergências conceituais entre os padres cantores Marcelo Rossi e Zezinho

Conselho de irmão


A revista VEJA escreveu e o Google deu: “Marcelo Rossi – Confissões de um padre”. A manchete permite rastrear uma entrevista cedida a VEJA, edição do dia 18.04.2011. Reproduzimos fragmentos dessa entrevista e da resposta do padre Zezinho que ironiza certo conceito de “humildade”.
 O senhor despontou no fim dos anos 90 como um fenômeno religioso que atraía multidões. Nos últimos anos, porém, tem feito poucas missas grandiosas. O que aconteceu?
Em meados de 2007 decidi reduzir as evangelizações em massa. Meu último grande espetáculo de fé, vamos chamar assim, ocorreu em 2008, para a gravação do meu DVD, Paz Sim, Violência Não, que reuniu 3 milhões de pessoas no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Cheguei a fazer três desse tipo por ano. Mas chega uma hora em que precisamos descansar. Em 2007, às vésperas de completar 40 anos, concluí que deveria cuidar da saúde. [...] Eu estava esgotado, mas não foi só isso que me levou a mudar minha rotina. No início de 2007, passei por um tremendo baque durante a visita de Bento XVI ao Brasil. Eu tinha um sonho na vida: cantar para o papa na minha terra. Nunca escondi isso de ninguém. Mas me colocaram para fazer um espetáculo às 5h40 da manhã, no dia da cerimônia de canonização de Frei Galvão, no Campo de Marte, em São Paulo. Ou seja, em um horário em que não havia quase ninguém – muito menos o papa. Fui vítima de boicote. Com o padre Jonas Abib (fundador da Comunidade Canção Nova) também ocorreu coisa semelhante.

Quem boicotou?
Integrantes da Arquidiocese de São Paulo. Alguns organizadores da visita do papa ao Brasil. Eles capricharam na humilhação. Além de nos colocarem para cantar de madrugada, eu e o padre Jonas fomos barrados. Na entrada, fomos informados por um agente da Polícia Federal de que, com o nosso tipo de crachá, não teríamos acesso ao palco, mas apenas à plateia, apesar de escalados para fazer uma apresentação. Ficamos lá, esperando num frio danado, de madrugada, com a garganta doendo, até sermos liberados. Mas, durante todo o tempo, agi humildemente. [...] Se eu fosse arrogante, faria um escândalo. Um amigo me disse que eu não deveria nem ter me apresentado. Um padre, contudo, tem de agir com humildade. [...] Mas ser impedido de me aproximar do papa, de pedir sua bênção, me magoou profundamente. Faço tanto pela Igreja e fui jogado de lado.
 
Mas, no ano passado, o senhor ganhou um prêmio das mãos do papa, o Van Thuân, que condecora os “evangelizadores modernos”.

Esse prêmio foi muito especial. A confirmação como um cala-boca na Arquidiocese de São Paulo. Jamais esquecerei as palavras do papa ao me entregar o prêmio: “Continue assim”. Sabe quantos padres me ligaram para me cumprimentar pela decoração? Um. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil até agora não me procurou. E olhe que havia muito tempo que um padre brasileiro não recebia essa condecoração.
 
Qual seria o motivo desse desdém?
No fundo, no fundo? (Ele faz o gesto que indica dor de cotovelo.) Mas aprendi, com o sofrimento, a não remoer mágoas. Minha missão é buscar ovelhas, não é agradar a padres.
 O senhor chegou a ter depressão por causa desses episódios?

Não sei se posso chamar de depressão. Mas, em 2010, passei por um período de tristeza profunda. Hoje, percebo que o gatilho para esse estado foi o fato de ter sido impedido de ver o papa em 2007. No dia 29 de abril do ano passado, enquanto corria na esteira ergométrica, perdi o passo e me estatelei no chão. Foi feio: distendi três tendões e tive uma fissura em um osso do pé esquerdo. No momento da queda, o boicote veio à minha mente. Três dias antes, eu havia sido avisado de que, em outubro, receberia o Van Thuân das mãos do papa. Fiquei apavorado com a possibilidade de ser impedido de ver o papa mais uma vez. [...] Não dividi minha angústia com ninguém, além do meu bispo. Nem para minha mãe contei como estava mal. Sou um padre, e minha missão é ouvir. Não é falar de mim. [...]
 
Ao contrário de outros padres que também cantam, o senhor sempre aparece de batina. Por quê?
A batina é a maior identidade sacerdotal. Acho um perigo não usá-la. A batina impõe respeito, é uma proteção – inclusive contra o assédio das mulheres. Você não imagina a quantidade de besteiras que eu ouço.

O senhor não tem nenhuma vaidade?
Só tomo remédio finasterida, para não ficar careca. Um amigo me avisou que só tinha uma problema: o medicamento aumenta o risco de impotência. Para um padre que observa fielmente o celibato, não se trata de um problema.

O que o senhor faz com os rendimentos do livro, dos CDs e dos DVDs?
Doo a comunidades carentes, mas, hoje em dia, a maior parte é destinada ao novo santuário que estou ajudando a erguer desde 2002. O projeto é primoroso, tem a assinatura do arquiteto Ruy Ohtake. O empreendimento terá 6 000 metros quadrados de área interna e 25 000 de externa. O vão tem 120 metros de comprimento e não haverá uma só coluna na parte de dentro – para que os fiéis possam ver o altar de qualquer ponto da Igreja, sem empecilhos. Graças ao que ganhei com meu livro, o santuário tem finalmente data de inauguração: 1º de dezembro.

Então o senhor pretende voltar a pregar as multidões?
Eu sempre estarei ligado às multidões. Mesmo se quisesse, jamais conseguiria celebrar uma missa para quarenta pessoas. Minha missa, às quintas-feiras, atraí 20 000 fiéis. Em apenas uma noite de autógrafos do meu novo livro, costumo reunir 10 000 pessoas. Muitas chegam a ficar dez horas esperando por uma dedicatória minha. Por vezes, minha mão incha tanto que tenho de parar e propor uma bênção em vez de autógrafo.


A era das pequenas eminências.
Trechos do comentário do padre Zezinho (Pe. José Fernandes de Oliveira, S.C.J.) sobre a entrevista do padre Marcelo Rossi
Excelente é mais do que bom. Alguém é excelente quando sua atividade, seus talentos e suas qualidades estão acima da média. Na Igreja Católica dá-se o título de “Excelência” aos bispos. “Eminência” é título dado a dignitários eclesiásticos que se distinguiram em alguma liderança e foram nomeados cardeais. São estes irmãos chamados cardeais que, por exemplo, elegem o Papa. [...]
Nos últimos 30 anos no Brasil, com o crescer da mídia tenho observado outro tipo de eminências. São até excelentes e acima do comum no que fazem, e certamente mereceriam reverências e vênias, porque, por seu trabalho na mídia estenderam o púlpito da Igreja. Só por isso já mereceriam aplausos. Quem atua na mídia sabe que não é simples [...]. E as piores ciladas começam dentro do pregador que acha que é o que não é, e que insiste em chamar os holofotes para a sua pessoa. [...]
Quem leu a revista “Veja” de 17 de abril de 2011 teve ali um triste exemplo de imaturidade e do que significa sentir-se mais eminente do que se é. É o tipo de entrevistas que deveria ser lida e analisada em todos os seminários e movimentos católicos para os futuros pregadores aprenderem como não ser nem fazer quando tiverem nas mãos um microfone. Chega a ser patética...
O ainda jovem, mas ultra-famoso sacerdote que vendeu milhões de discos e livros, vai a público e confessa sua mágoa e indignação, passados quatro anos, contra a diocese e alguns líderes da mesma que, segundo ele, o humilharam e boicotaram, não lhe permitindo o destaque que ele achou que merecia quando o Papa esteve entre nós no Brasil.
Foram palavras dele na entrevista até agora não desautorizada por ele. Culpa aqueles líderes por sua quase depressão, porque negaram-lhe a realização do sonho de estar diante do Papa. Acabaram escolhendo outro e relegando-o a uma atuação secundária, ao amanhecer, em lugar onde havia poucas pessoas. Acusou-os de dor de cotovelo. Por que outros e não ele que fez tanto pela Igreja?
Mesmo depois de, mais tarde, haver recebido em Roma um prêmio de excelente evangelizador não se aplacou. Pela segunda vez diante da grande mídia, ainda magoado disse que interpretava aquele prêmio como “um cala boca” à diocese que não lhe dera o devido destaque na vinda do Papa quatro anos antes, ao Brasil. Em dado momento reclama que dos padres do Brasil apenas um ligou para cumprimentá-lo pelo prêmio. E dá a entender que não precisa do apoio deles... E declara que ainda espera uma manifestação da CNBB por sua conquista... Psicólogos dariam um nome para esse tipo de atitude...

Tudo, dito com realces de que é humilde, não é arrogante, é padre e usa batina; e com ataques pesados aos padres que não usam batina, deixando claro que a batina protege o padre contra o assédio das mulheres... Chega ao ponto de dizer que a batina é a “maior identidade sacerdotal”. Ora, padres e leigos sabem muito bem que o hábito não faz o monge. Confunde uniforme com identidade e identificação com identidade... Vão por aí as diatribes e o desfile de suas mágoas contra o boicote sofrido... [...]
Está tudo claro e sem rodeios nas entrevistas tipo lavanderia!  Na era das eminências que mais do que auto-estima vivem um clima de altíssima estima de si mesmos, um pouco de ascese não faria mal aos futuros comunicadores da fé. Se não forem reconhecidos, com o sem batina ou colarinho, mostrem que realmente têm fé e seguem os evangelhos. Perdoem e recolham-se à sua significância que nunca será insignificância, mas que também não pode ser supra-relevância.

Ficar deprimido porque não foi valorizado na vinda do Papa? Um pregador da fé? Não teria sido muito mais cristão manter a boca fechada, solicitar audiência, ir ao líder da diocese e ali derramar suas mágoas? Tinha que ir às páginas amarelas de uma revista que sabidamente não prima em elogiar a Igreja que o ordenou pregador?... Francamente! Institua-se urgentemente nos seminários desde o primeiro ano um curso de Prática e Crítica de Comunicação. É que algumas atuações têm andado abaixo da crítica!

Hoje é dia dos Reis

Vieram do Oriente, de onde vem a luz (“ex oriente lux”), para realizar um sonho. No encontro com a fonte da luz, LUZ DO MUNDO, realizaram seu sonho, transformaram-se e voltaram por outro caminho.

Por causa da dependência do povo não celebrou "Missa da Independência". Foi expulso do País e voltou depois de 30 anos. Seja bem-vindo padre Miracapillo!

Choro, alegria, solidariedade. Dezenas de pessoas – entre amigos, fieis e militantes dos direitos humanos que aguardavam o padre italiano Vito Miracapillo – não contiveram a emoção quando o religioso apareceu no saguão do Aeroporto Internacional dos Guararapes, ontem à noite (3.1.2012), vindo da Itália, para dar entrada na revalidação de seu visto permanente no Brasil.

Vito Miracapillo foi expulso do País em outubro de 1980, em plena ditadura militar, por ter se recusado a celebrar uma missa em homenagem ao Dia da Independência, na cidade de Ribeirão (Mata Sul), onde era pároco.
 


Foi com esta carta, encaminhada aos Poderes Executivo e Legislativo de Ribeirão, que o padre Vito Miracapillo foi expulso do Brasil.

O pedido, na época, foi apresentado pelo então deputado estadual de Pernambuco, Severino Cavalcanti, do PDS, posteriormente despejado da presidência da Câmara por extorquir mensalinhos de 10.000 Reais do empresário Sebastião Augusto Buani, que explorava duas lanchonetes no prédio da Câmara.
 

“À distinta Câmara Municipal

Tendo recebido o convite para as solenidades da “Semana da Pátria”, faço cientes aos Excelentíssimos Senhores de que não será celebrada a Missa de Ação e Graças no dia 07 e no dia 11, na forma e no horário anunciados. Isto por vários motivos, entre os quais a `não efetiva independência do povo´, reduzido à condição de pedinte e desamparado em seus direitos.

Atenciosamente,

Pe. Vito Miracapillo”



Em novembro passado, 31 anos depois, o Ministério da Justiça concedeu novamente o direito do religioso de, caso queira, permanecer definitivamente no Brasil.

Sorridente, feliz com a recepção, o padre italiano afirmou que agora, após revalidar seu visto, ficará na expectativa acerca de seu destino. “É uma felicidade voltar. Agora, temos que ver com os bispos como vai se dar a volta. É claro que o bispo da Itália também tem que decidir me mandar. Eu sempre me senti em casa no Brasil, mesmo depois da expulsão”, disse Miracapillo, que em sua agenda de hoje irá conceder entrevista coletiva e, no fim da tarde, será recebido pelo governador Eduardo Campos (PSB) no Palácio do Campos das Princesas.

Ao desembarcar, Miracapillo reencontrou muitos dos amigos que cultivou nos cinco anos vividos em Ribeirão, antes da expulsão. Incluindo o casal Norma Sueli e Oscar Tavares de Melo, cujo matrimônio foi celebrado justamente pelo religioso no mesmo ano em que ele foi expulso do País. “Não gosto nem de lembrar da expulsão dele, para nós foi a morte”, afirma Norma, que também estava com o neto Vitor Gabriel, cujo nome foi uma homenagem ao padre.

Presente no aeroporto, o vereador de Olinda e membro do Comitê Memória, Verdade e Justiça de Pernambuco, Marcelo Santa Cruz (PT), acredita que foi feita “a reparação de uma injustiça grande”. [Fonte: Jornal do Comércio, 4.1.2012]

Da “conversão” à “indignação”, da “indignação” à ação. Contra os administradores do ontem!


Por uma indignação histórica

Catadoras de lixo
A “conversão pastoral”, proposta por Aparecida (DAp 365ss), não aconteceu. Tudo como dantes, no quartel de Abrantes. Estamos patinando, enquanto a juventude mundial está gritando: “chega”! Após uma década do surgimento dos movimentos de Seattle (1999) e Porto Alegre (2001), o movimento dos que pensam que outro mundo é possível irrompe novamente nas praças do mundo: Primavera Árabe, desde Egito, os indignados, desde Espanha, os ocupantes da Wall Street de New York, os protesto dos estudantes no Chile.


 Manifesto de cristãos indignados


Amigos meus, que se queixaram sobre a ausência significativa de cristãos no movimento dos indignados de Madrid, agora começam a contentar-se com o movimento de cristãos, na França, ainda timidamente articulando sua indignação com as estruturas políticas e eclesiais concretas, e com um ecumenismo de baixa densidade. A pergunta essencial, porém, que o movimento se faz é aquela mesma pergunta de Lenin: “O que podemos fazer?” A seguir trechos de seu “Manifesto” que se encontra republicado na íntegra no sitio IHU e traduzido por Moisés Sbardelotto.

   “Vindo de horizontes diversos, de idades, situações familiares e profissionais muito variadas, temos em comum a nossa fé, a nossa pertença à Igreja Católica e as nossas convicções sociais e políticas. Profundamente interpelados pela crise que a nossa época atravessa, nos interrogamos sobre as nossas responsabilidades e sobre as do nosso ambiente cristão.

O nosso primeiro ato de engajamento consiste
em tomar a palavra.


Associamos a nossa voz à de todos aqueles que denunciam há muito tempo o sistema econômico neoliberal que rege economias e sociedades há cerca de 30 anos. Discípulos de Cristo, não temos medo de expressar a nossa revolta contra uma ordem profundamente antievangélica, cujas consequências desastrosas não podem mais ser contestadas.[...]
A fila do SUS
  Herdeiros de um humanismo bimilenar que enraíza toda a nossa tradição social e política em uma concepção muito elevada da pessoa humana, podemos ignorar por mais tempo que o materialismo assumido e agressivo, sob cujo regime vivemos, reflete uma imagem deformada e brutalizada da nossa humanidade? [...]

O paradigma liberal não somente não funciona, mas é indigno do ser humano. É nossa responsabilidade como cristãos afirmar isso e propor outro modelo conforme as exigências do Evangelho. [...]
 
O que podemos fazer?

1. Sobretudo, converter o nosso olhar sobre o mundo que nos rodeia. Devemos fazer a constatação de que não podemos mais continuar vivendo como fazemos, nem ignorar que o paradigma liberal sobre o qual as nossas vidas são construídas não é duradouro e leva a humanidade à sua ruína. Devemos compreender que tudo está conectado e que não há uma única crise: ela é ao mesmo tempo financeira, econômica, ecológica, política, moral e espiritual. É a crise de uma humanidade que perdeu seu caminho e simplesmente comprometeu as suas chances de sobrevivência, tendo esquecido “as razões” do viver.

Indignados com satanás
2. Uma vez iniciada essa conversão, é preciso que mudemos o nosso estilo de vida cotidiana, vivendo pessoalmente e promovendo em torno a nós uma ecologia completa e plenamente humana. Pensamos, com efeito, que refundar as nossas sociedades passa, sobretudo pela adoção de um modo de vida simples e respeitoso ao nosso ambiente social e natural. Mudar de vida significa renunciar com firmeza às lógicas de "crescimento", de monopólio e de consumo sem discernimento que caracterizam o modo de vida ocidental e optar, em nome do ideal de vida cristão, por levar uma existência sóbria e alegre centrada no essencial. [...]

3. Por fim, em uma escala maior, devemos participar ativamente da promoção de tudo o que, ao nosso redor, orienta os seres humanos a um futuro novo! Digamo-lo diretamente: empresas à medida do ser humano preocupadas com o seu enraizamento na sociedade; trocas econômicas livres, mas subordinadas a regras de solidariedade imperativas e desimpedidas dos artifícios das finanças desmaterializadas; um modo de vida sóbrio, próximo da natureza, dos seus ritmos e dos limites que ela nos impõe e que, sem ter medo de nos repetir, volta definitivamente as costas ao modelo consumista; todas as iniciativas políticas que tendam a fazer viver uma concepção nova do bem comum, entendido em uma acepção universal, capaz de abraçar o destino dos povos próximos ou distantes que sofrerão, direta ou indiretamente, as escolhas que fazemos para nós mesmos. [...]
  Assim, poderemos escancarar as nossas janelas para o mundo com confiança e generosidade, ouvir o apelo à justiça que ressoa de um lado ao outro da nossa terra e deixar agir em nós que o Espírito do dom que espera o nosso engajamento para se manifestar.”