Cracolândia - um presente de aniversário que São Paulo não mereceu


Todo aniversariante ganha um presente. O arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, disse que a operação desencadeada na cracolândia neste início de ano é um "presente" para a cidade. Ao lado do prefeito Gilberto Kassab, Dom Odilo visitou (21.1.) o chamado “Complexo Prates”, que deveria atender dependentes químicos. O "Complexo Prates" não é de Édipo, nem de inferioridade. É simplesmente o "Complexo Prates de Kassab", caixa vazia, simulação de promessa cumprida.
O cardeal de São Paulo considerou como necessária a intervenção da Polícia Militar. Como se sabe, o “presente” foi uma intervenção militarizada, cuja meta era liberar a área para a indústria imobiliária. A farsa comprovou-se na visita do “Complexo Prates”, um galpão vazio para dar a assistência médico-sanitária aos fugitivos de Cracolândia.


"Eu fico feliz que, neste ano, o aniversário da cidade possa ser coligado com este fato, com este presente à cidade", disse Dom Odilo. "Que o aniversário de 2012 possa ficar marcado por essa intervenção numa ferida. Nunca uma intervenção numa ferida é indolor, mas que seja para sua cura, para sua superação."
Integrantes da administração Kassab comemoraram a declaração, um contraponto às críticas feitas pelo padre Júlio Lancelotti, que classificou como "tortura" a política de "dor e sofrimento" empregada na operação. Questionado sobre a inauguração de todo o complexo, o prefeito Gilberto Kassab disse que ele ocorrerá ao "longo de março". Não garantiu nem mesmo o funcionamento da parte assistencial, anteriormente dada como certa para fevereiro. Segundo ele, não era preciso esperar a conclusão da obra para iniciar a dispersão dos pontos de venda e consumo de drogas no centro. Para o prefeito, a estrutura do município para abrigar moradores de rua e dependentes químicos já atende à demanda.
"Complexo Prates" de Kassab
Balanço divulgado sexta-feira (20) mostra que a Polícia Militar já realizou 6.924 abordagens a pessoas na região da Cracolândia, no Centro de São Paulo, desde 3 de janeiro, quando teve início a chamada operação de “combate ao tráfico”. “Presente” ou “tortura”? São Paulo não merece.
[Colaboraram nesta matéria: Reinaldo Azevedo, Wálter Fanganiello Maierovitch, Rogério Pagnan (F.d.S.P., 22-01-2012) e g1.globo.com. Fotos: Tadeu Meniconi/G1].

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