Índios evangélicos aumentam 42% em 10 anos



O número de índios evangélicos aumentou 42% nos últimos dez anos, segundo o Censo 2010. Eles já são 210 mil: 25% dos indígenas.


O crescimento segue tendência geral dos brasileiros. O aumento de evangélicos foi de 61% entre 2000 e 2010 e eles já são 22% da população. Entre os indígenas há adeptos a grupos que levam a evangelização a áreas isoladas. A organização dessas missões tem aumentado, afirma Carlos Travassos, coordenador-geral do setor que monitora tribos isoladas e de recente contato na Funai (Fundação Nacional do Índio).


O trabalho conta até com apoio de aviões, graças à Asas de Socorro, uma das 15 agências evangélicas filiadas à Associação de Missões Transculturais Brasileiras. Bancados por igrejas, voluntários fazem ações de ensino, assistência social e treinamento de líderes indígenas.
A maioria dos índios evangélicos é ligada à Assembleia de Deus: 31% (64.620 pessoas). Em segundo lugar vêm os batistas, com 17% (35,5 mil). O percentual de católicos indígenas caiu de 59% para 50,5% na última década.


Felipe Luchete
F.d.SP, cad. Poder, 22.7.2012

Os evangélicos, o catolicismo e a feira




Foto: Daniel Marenco/Folhapress





No dia 29 de junho uma notícia despertou em muitos sabor de inquietação e em outros foi motivo de júbilo. Uma das manchetes dizia: “Aumento de evangélicos no Brasil reduz número de católicos para 64,6%”. Já outra fonte dizia: “Evangélicos chegam a 22% da população, revela do censo de 2010”. Na verdade cada qual vê o mundo com os óculos e os olhos que possui. Também as informações objetivas do último Censo do IBGE podem ser vistas de diferentes ângulos.
Uma das explicações apresentadas é de que o aumento do número de evangélicos fez com que o catolicismo registrasse uma significativa queda no Brasil. Um cresceu porque o outro diminuiu. Parece lógico, mas a afirmação pode ser uma falácia. Assim entendido os números de evangélicos só aumentaram porque os católicos diminuíram. Em outras palavras, poder-se-ía dizer que quase 10% dos católicos abandonaram a Igreja porque migraram para o mundo evangélico.
Passados 20 anos, desde que este escrevinhador chegou a Brasilândia, o número de catequistas, agentes de pastoral e paroquianos católicos que migraram para outras confissões religiosas, foi sempre crescente. É como aquela mãe que aos pouco foi vendo os filhos crescer e deixando o lar para construir seus próprios ninhos. Caso recente na comarca foi o caso de um líder (e coordenador) da Renovação Carismática Católica que “largou” seu ministério de louvor e hoje é pastor – inclusive tendo vindo, dias atrás, ministrar palestra na seara evangélica na urbe, o que confirma a estatística do crescimento evangélico, sobretudo pentecostal, também nas nossas entranhas.
Isso não é novidade para aqueles que acompanham o processo de secularização da Igreja Católica Apostólica Romana. Se agora o censo revela que a proporção de católicos caiu nove pontos percentuais na última década e quase 20 pontos desde 1980, quando esse índice girava em torno de 83% da população, isso demonstra segundo os dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que o mundo está mudando. E mudando depressa nos valores e nas concepções ético-cristãs. Se ontem defendia-se a teologia da libertação, que foi banida por afrontar o  status quo, hoje apregoa-se a teologia da prosperidade como ideário e melhor produto no mercado da fé.
Apesar da queda registrada, o Brasil ainda é considerado o país com o maior número de católicos do mundo, com 123,2 milhões de fiéis. O estado com o menor índice é o Rio de Janeiro (45,8%), onde será realizada o ano que vem a Jornada Mundial da Juventude. O evento, marcado para julho de 2013, contará com a presença do Papa Bento XVI e promete reascender fé da juventude para os valores do alto, em meio a crise que a pós-modernidade confinou os sonhos e esperanças de, pelos menos, 25% da população brasileira com menos de 18 anos e que busca uma saída para suas vidas.


As religiões evangélicas foram as que mais cresceram na década e passaram de 15,4%, índice obtido em 2000, para 22,2% em 2010, o que representa um número de aproximadamente 42,3 milhões de pessoas. As pessoas tidas como sem religião também aumentaram, de 4,7% para 8,0%, o que representaria 15 milhões de pessoas, segundo os cálculos do IBGE. Esse grupo engloba a grande maioria de pessoas sem religião definida, e também 615.096 ateus e 124.436 agnósticos. Os brasileiros que se consideram espíritas representa 2% dos brasileiros, enquanto as religiões de origem africana, como a umbanda e o candomblé, representa apenas 0,3%.
Do quadro apresentado, podemos deduzir que a explicação maior para o fenômeno do crescimento evangélico está sobretudo pelo fato dos católicos não estar indo mais onde o povo está. Segundo a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, parte da responsabilidade por essa queda é da própria Igreja Católica. Segundo o padre Thierry Linard de Guertechin, do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento, entidade ligada à CNBB, o crescimento da quantidade de evangélicos no país pode ser visto como normal. "Nós já esperávamos que houvesse queda no número de católicos, mas nossa expectativa era que fosse menos [que o percentual registrado]", afirmou o religioso. Para o padre Thierry, que também é demógrafo, a própria Igreja Católica contribuiu para essa redução. "A forma como a igreja lidou com o movimento migratório brasileiro no século passado pode explicar um pouco o que aconteceu", esclarece. Tradicionalmente mais religiosos, os nordestinos migraram primeiro para o Sudeste e depois para as regiões Norte e Centro-Oeste. "Os fiéis não encontraram a igreja aonde eles foram, seja nas periferias das metrópoles, como Rio de Janeiro e São Paulo, ou nas cidades mais distantes do país".
Por outro lado, na opinião do diretor-executivo da junta de missões da Convenção Batista Brasileira, Fernando Brandão, essa variação é resultado do trabalho que as igrejas evangélicas têm desenvolvido com ênfase na comunidade e em grupos específicos, como crianças e jovens. "A partir da década de 80, as igrejas evangélicas passaram a intensificar as ações em comunidades carentes. Também nos preocupamos em trabalhar com crianças e adolescentes, o que não faz a Igreja Católica, que é mais voltada para os adultos", pondera Brandão.
Ele acrescenta ainda que o uso dos meios de comunicação, como rádio e TV, também foi determinante para a expansão do protestantismo no Brasil. A Convenção Batista Brasileira congrega mais de 12 mil igrejas e possui cerca de 2,5 milhões de adeptos no país. "Acreditamos que o número de evangélicos vai continuar a crescer ao longo dos próximos dez anos", prevê com entusiasmo. Diante do quadro, lembro das palavras brincalhonas de uma padre amigo meu, quando dizia: se antes a igreja católica era a dona da feira, hoje ela possui apenas uma banca em meio as demais igrejas para anunciar o seu peixe. Portanto, ficai atento aos produtos quem andam vendendo por aí.
Carlos Alberto dos Santos Dutra

2 comentários:

  1. Não se pode, a meu ver, esquecer de mencionar a nova parceria "igrejas-Estado" promovida pelo cristianismo que se autodenomina "evangélico". A força político-partidária, no caso do Brasil, é crescente e financiada, não raras vezes, com recursos públicos. Um exemplo: a Funai naõ só permite a entrada de "Igrejas evangélicas" nas comunidades (no Estado do Acre), como as insentiva e até as solicita. Quase todas as "missões" são, num só tempo, ligas a uma "igreja" e a um partido que muda de acordo com quem está no poder.

    A pergunta é: até quando vão se segurar na vã e falaciosa teologia da prosperidade?

    Bom trabalho.

    Lindomar Padilha

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  2. Em que é diferente o que os evangélicos fazem hoje com os índios do que fizeram os jesuítas no descobrimento? Padre Anchieta foi um grande torturador de índios. Católicos e evangélicos saõ tudo a mesma canalhada.
    Mais:
    http://amarretadoazarao.blogspot.com.br/2012/07/tupa-que-se-foda-ou-os-silvicolas-de.html

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