Voltando do México profundo



Ao voltar do México, José Oscar Beozzo e eu, voltamos de muitos Méxicos contrastantes. Do “México profundo” com sua civilização indígena negada e descrita por Guillermo Bonfil Batalla, do México peregrino da Basílica dedicada à Na. Sra. de Guadalupe e Juan Diego, do México da violência dos narcotraficantes; dos Legionários de Cristo e de Girolamo Prigione, núncio nefasto em México entre 1978 e 1997; do México dos amigos do Cenami e dos ex-alunos do curso de pós-graduação em Missiologia, São Paulo.
Desde a conquista, Bonfil argumenta, os povos do profundo México têm sido dominados por um "México imaginário" imposta pelo Ocidente. É imaginário, não porque não exista, mas porque nega a realidade cultural vivida diariamente pela maioria dos latino-americanos, mexicanos, brasileiros, argentinos...
 
As despedidas, neste Continente, sempre me fazem contemplativas lembrando a despedida de Lévi-Strauss dos Bororo (Tristes Trópicos): “A contemplação proporciona ao homem o único favor que ele sabe merecer: suspender a marcha, reter o impulso que o obriga a tapar, uma após outra, as fendas abertas no muro da necessidade e a concluir a sua obra, ao mesmo tempo que abandona a sua prisão; esse favor que toda a sociedade ambiciona, quaisquer que sejam as suas crenças, o seu regime político e o seu nível de civilização; onde ela situa o seu ócio, o seu prazer, repouso e liberdade; oportunidade fundamental para a vida, de se desligar, e que consiste – adeus, selvagens! adeus, viagens! – durante os breves intervalos em que a nossa espécie suporta interromper a sua faina de colmeia em captar a essência do que ela foi e continua ser, aquém do pensamento e além da sociedade: na contemplação de um mineral mais belo que todas as nossas obras; no perfume mais sábio que os nossos livros, respirando no âmago de um lírio; ou no piscar de olhos, cheio de paciência, serenidade e perdão recíproco que um entendimento involuntário permite, por vezes, trocar com um gato.”

Encerrado o “Ano da Fé - abertura do “milênio de esperança



No dia 19 de novembro, em que a Pontifícia Comissão para América Latina (CAL) esteve reunida na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe para encerrar o “Ano da Fé", um grupo de ex-alunos do curso de pós-graduação de Missiologia, em São Paulo, e amigos da causa indígena encerraram seu “Simpósio Missiológico” com a abertura de um “milênio da esperança". Foi um evento de celebração, comemoração e projeção em torno dos 50 anos do Concílio Vaticano II.


O “Simpósio Missiológico” reuniu sobreviventes do tempo pós-conciliar com a memória perigosa do Vaticano II cujo legado - uma pedra preciosa - aranhamos apenas com o prego enferrujado de um tradicionalismo sem audácia imposto pela “alfândega pastoral”, como o Papa Francisco diria. A presença do papa do “fim do mundo”, na Igreja universal, e sua luta contra os coveiros fundamentalistas do concílio, abrem novas perspectivas na sua realização.

Os participantes do simpósio trabalham hoje em diferentes trincheiras pastorais e missões, onde a memória perigosa tem nomes concretos: povos indígenas e Teologia Índia, descolonização litúrgica e inculturação da esperança, pastoralização das estruturas eclesiásticas e do direito canônico, auto-referencialidade e clericalismo, igualdade ministerial entre homens e mulheres e reconhecimento da alteridade em todas as suas dimensões. Dois dos nossos ex-alunos se tornaram bispos, nosso Aymara Carlos Intipampa, da Igreja Metodista, em Bolívia, e o Passionista Luiz Fernando Lisboa, em Moçambique.

Ao anoitecer, enquanto grupos folclóricos dançaram na praça entre a velha e a nova Basílica, preparando as festividades de Nossa Senhora da Guadalupe, membros da CAL convidaram seus participantes para rezar o terço na Basílica. A presença de Raul Vera, bispo de Saltillo, no final do encontro missiológico, tornou com sua intervenção o óbvio, público e nos lembrou que “a dimensão profética é dimensão essencial da missão evangelizador da Igreja”.
Paulo Suess


D. Raul Vera 

e

 Clodomiro Siller







Simpósio Missiológico na cidade de México: 50 anos do Concílio Vaticano II




Simpósio Missiológico no Cenami, México: A tentativa de definir o povo, adulto e autônomo, como sujeito da missão, sacudiu a instituição e a pastoral da Igreja Católica. Uma Igreja que olhou na sua liturgia para a parede, na sua teologia para o Catecismo Romano e em sua pastoral para as elites, deu no Concílio uma meia volta versus populum. Essa “virada popular” exigiu que a Igreja estendesse seus braços em direção à macroestrutura da modernidade e das microestruturas dos contextos vivenciais dos povos. Nos contextos vivenciais encontrou os que foram vítimas de elementos dessa modernidade: os pobres e suas lutas pela redistribuição dos bens; e os outros, em busca do reconhecimento de sua alteridade.











O adolescente que emprestou o seu anjo da guarda ao Papa

 


Nicolás que emprestou seu
anjo da guarda ao Papa
Da alma de Nicolás Marasco brotaram as palavras que nunca foi capaz de pronunciar. Com o olhar, transmitiu aos seus pais o que passava em seu coração. E um papel em branco foi se povoando de letras, bons desejos e uma história que o mundo conheceria.
 
A reportagem é publicada por Religión Digital, 10-11-2013. A tradução é de André Langer. O texto, apontado por Marisa e Fernando, dizia:
 
“Querido Francisco, sou Nicolás e tenho 16 anos. Como não posso escrever (porque ainda não falo nem caminho), pedi aos meus pais que o fizessem no meu lugar, porque eles são as pessoas que mais me conhecem.
Quero te contar que quando tinha seis anos, no meu colégio, que se chama AEDIN (Associação em Defesa da Criança Neurológica), o padre Pablo me deu a primeira comunhão, e este ano, em novembro, serei crismado, algo que me dá muita alegria.
Todas as noites, desde que me pediste, peço ao meu anjo da guarda – que se chama Eusebio e tem muita paciência – que te cuide e te ajude. Podes estar certo de que o faz muito bem, porque me cuida e me acompanha todos os dias. Ah, e quando não tenho sono... vem brincar comigo.
Gostaria muito de vê-lo e receber tua bênção e um beijo: só isso! Mando-te muitas saudações e continuo pedindo ao Eusebio que te cuide e te dê força. Beijos, Nico.”
 
 Francisco ficou impressionado. Contaram-lhe que o rapaz de Buenos Aires sofria de uma encefalopatia crônica não evolutiva, mas que ia a uma escola em Colegiales e conseguia comunicar-se com seus pais, muitas vezes às gargalhadas.
No dia 04 de outubro passado, à multidão que o escutava no túmulo de São Francisco de Assis, o santo inspirador de seu papado, o Papa contou sua história e considerou que “nesta carta, no coração deste rapaz, estão a beleza, o amor, a poesia de Deus. Deus que se revela a quem tem o coração simples, aos pequenos, aos humildes, a quem muitas vezes nós consideramos os últimos”. Francisco ressaltou também que foi uma das cartas mais emotivas que havia recebido desde que chegou a Roma.
Três dias depois, Nico – que nasceu prematuro e sofre sequelas de um AVC – recebeu uma resposta manuscrita de Francisco, o Papa que responde às mensagens que o comovem:
 
“Querido Nicolás, muito obrigado por tua carta. Muito obrigado por rezar por mim. Com tua oração, tu me ajudas no meu trabalho, que é levar todas as pessoas a Jesus. Por isso, querido Nicolás, tu és importante para mim. E quero te pedir, por favor, que me continues ajudando com tua oração e também pedindo a Eusebio, que com certeza é amigo do meu anjo da guarda, que também cuide de mim.
Nicolás, obrigado por tua ajuda. Rezo por ti. Que Jesus te abençoe e a Virgem Santa te cuide. Afetuosamente, com minha bênção, Francisco.”
 
Nico emprestou seu anjo ao Papa e no domingo à tarde, em Colegiales, recebeu o sacramento cristão da Confirmação, junto com outros 16 colegas da escola.
De Roma, o Papa o abençoou novamente, graças a um emissário sensível que o colocou a par do acontecimento. Além disso, levou-lhe um quadro com as fotos de todos os jovens que neste domingo foram crismados.
Marisa Mariani, a mãe de Nico, festejou à noite: “Com o que aconteceu conosco, nos damos conta da importância das coisas simples, uma palavra de alento, alguém que ouve, alguém que não vira o rosto para o outro lado, como às vezes acontece conosco na rua”.
Não há registro de onde “Eusebio”, o anjo guardião que o Papa pediu emprestado por um momento, andava no domingo. Suspeita-se que passou por Colegiales.

Dom Tomás recebeu alta da UTI e indígenas realizam ritual na rua em frente ao Hospital






Dom Tomás está se recuperando a "passos velozes" e se encontro no Hospital do Coração Anis Rassi, em Goiânia. Ele havia sido internado, no último dia 1º, na cidade de Ceres, GO e transferido para Goiânia no final da tarde da última 5ª feira.
 
Ritual indígena
pela recuperação da saúde de Dom Tomás
 

Mais de cinquenta pessoas, amigos e amigas, companheiros e companheiras de Dom Tomás, acompanharam na tarde deste sábado, 9, o ritual indígena feito por  índios das etnias Xerente, Krahô e Krahô-Kanela pelo pronto restabelecimento da saúde de Dom Tomás. Pelas 11 horas da manhã ele havia deixado a UTI e fora transferido para o quarto. O ritual se desenvolveu na rua em frente ao Hospital do Coração Anis Rassi, em Goiânia (GO). Desde a janela do quarto Dom Tomás acompanhou tudo.
 

 

O ritual contou com cânticos, ao ritmo do som de maracás, falas e aplicação de um pó vegetal, à semelhança de unção. Nas falas, todos ressaltaram a importância de Dom Tomás para a luta dos povos indígenas, não só do Tocantins, mas de todo o Brasil. Isabel Xerente disse que Dom Tomás é o segundo pai. Vagner Krahô-Kanela lembrou o apoio de Dom Tomás na conquista de suas terras. Acentuou que a luta deles é pela vida, e a vida dos povos indígenas não existe sem o território. Foi lembrado também que Dom Tomás acompanhou, há poucos meses, uma delegação indígena do Tocantins em audiência com o Ministro Alexandre Padilha, quando foram reivindicar melhor atendimento de saúde.
 
Todos afirmaram com força que Dom Tomás é ainda muito necessário para a luta dos povos indígenas, pois a pressão contra seus direitos e seus territórios é muito grande. Por isso Deus vai ajudá-lo a superar esta doença.
 
 
Isabel Xerente
Isabel Xerente passou o pó de uma árvore do Cerrado, ao modo de uma unção, em diversas pessoas presentes, amigas de Dom Tomás, já que ele estava no quarto. O ritual tem o sentido de proteger a pessoa, pois segundo eles ao mesmo tempo em que tem muita gente que quer Dom Tomás vivo, muitos fazendeiros gostariam de ver Dom Tomás morto, como a senadora Kátia Abreu. Depois de terminado o ritual em frente ao Hospital, Isabel e outra indígena subiram ao quarto onde aplicaram também nele o pó.
Dom Tomás acompanhou tudo desde a janela do quarto, acenando para os presentes, e se comunicando através do viva voz de um celular. Ainda deu uma entrevista à TV Anhanguera pelo telefone. No final deu a todos e todas sua benção.
Canuto

 

 
Da Carta de Antônio Veríssimo, liderança do povo Apinajé do Estado do Tocantins, à Dom Tomás Balduino, Bispo emérito da cidade de Goiás (GO).

 

 
[...] Os Povos Indígenas do Estado de Tocantins e Goiás (Apinajé, Krahô, Krahô, Kanela, Xerente, Tapuia) somos muito gratos a você. Para nós você é um Mestre, Conselheiro, Profeta, um defensor inalienável e convicto da Causa e da Vida dos povos marginalizados, escravizados e excluídos. Temos Fé e acreditamos que nosso Deus, também está junto com você nessa batalha pela vida, por que nosso Pai jamais abandonará um varão justo numa hora difícil. E você é um ser humano justo, digno e honrado, que está cumprindo a sua nobre missão, praticando a Justiça e promovendo a Paz.
 

 
Antônio Apinajé
Dom Tomás, veja que bela e exemplar história de resistência você está escrevendo e “imprimindo” junto com os Povos Indígenas e Movimentos Sociais desse País. Um bom pastor, sempre armado com a verdade e munido com sabedoria cristã; às vezes voando em céus de turbulências, às vezes navegando em águas agitadas ou trilhando os caminhos espinhentos dessa América Latina. Você nunca se intimidou e nem se curvou diante da arrogância e da prepotência dos tiranos.
Nessa caminhada você tem nos ajudado a fazer o bom combate; assim junto com outros lutadores você fundou o Cimi e a CPT, trincheiras seguras para denunciar e lutar contra as injustiças sociais, as  violências, o preconceito, a escravidão, o latifúndio e a pistolagem, que também são as piores “doenças” que geram a morte. Nessa guerra temos contabilizado muitas vitórias; se lembra de algumas? Nesse momento de sua Vida você nos da maior lição de amor ao próximo. Esse gesto Guerreiro nos fortalece e nos enche de esperança; na certeza que temos que continuar lutando pelas crianças, pelos idosos, pelos empobrecidos e excluídos. A nossa luta por dignidade e Direitos Humanos não tem fronteiras e é contínua. Até breve grande Guerreiro da Paz, nós vamos vencer!!!
Terra Indígena Apinajé, 9 de novembro de 2013.
 
 

Dom Tomas Balduíno é a memória viva da pastoral indigenista da Igreja Católica. Ele enriqueceu essa pastoral com a herança dominicana, viva em pessoas como Las Casas, António de Montesinos, Chenu e Congar. Na trajetória de 92 anos, muitas sementes, que o confessor Balduíno lançou, se multiplicaram nos corações e territórios dos povos indígenas. Nenhum inverno político ou eclesiástico conseguiu sufocá-los por baixo de um cobertor de gelo neoliberal ou neoagostiniano.
Hoje, somos testemunhas de uma pastoral indigenista que aprendeu que a catequese a serviço da Vida passa pela questão da terra/território, da cultura e da participação política. Somos testemunhas de uma pastoral que devolveu o protagonismo da causa indígena aos próprios indígenas, sem jamais abandonar a sua causa.
Paulo Suess
 

Em sua XX Assembleia Geral, o Cimi define suas prioridades: terra e território, formação, urbanização e apoio aos movimentos indígenas


Lucidez



Despojamento


Companheirismo




D. Leonardo Steiner
secret. geral da CNBB
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), motivado pelas palavras de São Paulo aos Romanos, reuniu-se no Centro de Formação Vicente Cañas, Luziânia (GO), de 4 a 8 de novembro, em sua XX Assembleia Geral, cujo lema: ‘Desafios e perspectivas na construção do Bem Viver’ foi matriz de reflexões para os cerca de 150 missionários, missionárias, colaboradores, lideranças indígenas, convidados e assessores. O encontro aprofundou análises realizadas há um ano, durante o Congresso dos 40 anos do Cimi, reflexivas à ação missionária e conjuntura latente e vindoura.


No apoio incondicional ao protagonismo e autodeterminação dos povos indígenas, denunciamos os ataques e investidas contra os direitos à terra, o esbulho de territórios, a invasão, a violência, o racismo e a morte. Denunciamos e acusamos o governo federal de ser parte integrante desta ampla ofensiva anti-indígena, alimentando com bilhões de reais o setor que melhor expressa a sanha colonizadora e opressora no campo brasileiro: o latifúndio desdobrado na rede do agronegócio e na bancada ruralista encastelada no Congresso Nacional. Há séculos a perspectiva latifundiária tem sido o ‘chicote’ que mantém a escravidão, grilagem de terras, assassinatos encomendados, promove a devastação de recursos naturais e a concentração fundiária.

Este governo paralisou a demarcação de terras no país em troca de negociatas pré-eleitorais e, com isso, desrespeita a Constituição Federal e acordos internacionais, como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A todo custo, rasga territórios com usinas hidrelétricas sem consultar as comunidades afetadas, deixa morrer centenas de indígenas por enfermidades de fácil tratamento, mesmo com milhões destinados à saúde destes povos. A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) continua apostando na terceirização de serviços de saúde, modelo comprovado pelas comunidades como ineficiente e corruptível. Ao mesmo tempo,  amplia o aparelhamento político do sistema e responde às críticas com articulações que promovem a divisão do movimento indígena, especialmente no que se refere ao controle social.

A Presidência da República, por sua vez, mantém órgãos como a Advocacia-Geral da União (AGU) a serviço de interesses anti-indígenas. Exemplo disso foi a edição da Portaria 303/2012 que visa estender para as demais terras indígenas as condicionantes de Raposa Serra do Sol (RR). É uma afronta à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Os ministros definiram, no julgamento da Petição 3388, que elas não são vinculantes, portanto, restritas ao caso concreto de  Raposa Serra do Sol.

Acusamos o Poder Legislativo, dominado pelos ruralistas, em insistir com propostas de emendas à Constituição e leis complementares, projetos de lei e pronunciamentos racistas nas tribunas da Câmara e do Senado numa cruzada anti-indígena pela desconstrução do direito originário à terra. A PEC 215/2000, PEC 237/2013, o PLP 227/2012, PL 1610/1996, a Portaria Interministerial 419/2011 e o Decreto 7957/2013 são hoje perigos iminentes ao futuro da vida dos povos indígenas. Sem ouvir as comunidades e atendendo a interesses de grupos econômicos, tais medidas precisam ser arduamente combatidas e razão para a unidade do movimento indígena, fortalecimento dos povos e diálogo intercultural com os demais grupos e coletivos, que hoje se erguem no país e mundo na perspectiva da ‘desobediência civil’.

As ações do Estado refletem a etnofagia estatal como lógica de integração da pluralidade numa única perspectiva, o caráter uninacional e monocultural do Estado-nação e a visão única do atual modelo desenvolvimentista que privilegia pequenos grupos em detrimento de outras perspectivas de vida plena. Nota-se o aprofundamento do pensamento racista ocidental, que não reconhece os povos originários e comunidades tradicionais como plenamente capazes de pensar e produzir conhecimento. Vivemos uma democracia colonialista e precisamos dar o giro descolonial. Nessa perspectiva, combatemos o projeto do atual governo que promove a reterritorialização do capital rumo, sobretudo, ao centro-oeste e norte do país, tal como previa o governo militar nos anos 1970.

Se fortalece, todavia, a luta no rumo da ruptura sistêmica - a pachakuti - e na conversão pessoal em combate à sociedade do crédito, da saída individualizada; ruptura e conversão têm dimensões sociais, políticas, éticas e econômicas. A cidadania, destinada pelo atual modelo a expressar-se pelo consumo, precisa refletir o pluralismo histórico  e afirmar as identidades dos povos indígenas, quilombolas, das comunidades tradicionais, campesinas e de outras populações do campo.

Durante a XX Assembleia, representantes indígenas manifestaram profundas preocupações diante de tais investidas contra seus direitos pelo Estado brasileiro, com brutal violência, assassinatos e criminalização. Ao refletirem sobre os setores que os oprimem, dizem que “se não nos deixarem sonhar, não os deixaremos dormir”. Com convicção, afirmaram que jamais renunciarão às suas terras. Ao mesmo tempo, sentem-se encorajados por todos aqueles que deram suas vidas na luta pelos seus direitos, por avanços conquistados e pela certeza de que jamais serão vencidos. Esperam continuar com o apoio solidário do Cimi e de mais aliados e amigos.

Atendendo a este chamamento dos povos indígenas, a XX Assembleia Geral do Cimi definiu as suas prioridades de ação: terra e território como direito fundamental; formação política e metodológica de missionários e indígenas; a urbanização e seus impactos sobre os povos e territórios; movimento indígena e alianças com setores comprometidos na defesa da causa indígena por um Estado Pluriétnico.

Com os povos indígenas, originários de todo continente, Abya Yala, com os quilombolas, populações tradicionais, campesinos, com os empobrecidos e oprimidos, queremos renovar nossa profunda convicção de que mesmo que neguem a vida, decepem as árvores, é da raiz invencível que brotarão flores e frutos, mel e leite, novos projetos de sociedade, do Bem Viver defendido pelos povos ameríndios.

Luziânia, GO, 8 de novembro de 2013
XX Assembleia Geral do Conselho Indigenista Missionário - Cimi
http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=7236&action=read




XX Assembleia Geral do Cimi: a longa caminhada ao Bem Viver




Com a presença de 120 missionários e missionárias, além de lideranças indígenas e convidados, o Cimi realizou sua XX Assembleia Geral, no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia (GO), entre os dias 5 a 8 de novembro. O evento tem como tema ‘40 anos do Cimi: desafios e perspectivas na construção do Bem Viver’.




“O encontro acontece num contexto de grande ofensiva aos direitos dos povos indígenas pelo governo federal e pela bancada ruralista no Congresso Nacional. Este ano tem sido de resistência do movimento indígena e das organizações que os apoiam. Precisamos, então, olhar para o passado, agir no presente e nos preparar para o que virá”, declarou o secretário executivo do Cimi, Cleber Buzatto.


“O indigenismo do Cimi é libertador, em oposição ao indigenismo de tutela do Estado. Em âmbito nacional existem 32 conselhos e duas comissões nacionais: a de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT) e a de Política Indigenista (CNPI). Por que apenas estas duas não obtiveram o status de conselho?”, questiona o missionário Saulo Feitosa, secretário adjunto do Cimi.
O tema da XX Assembleia aponta para a finalidade do Cimi: ajudar manter ou voltar ao Bem Viver dos povos indígenas. Esse bem viver passa pela defesa de seus territórios e pelo respeita às suas culturas.
Em entrevista a Unisinos, o assessor teológico caracterizou alguns aspectos desse Bem Viver:




Quais são os aspectos centrais da concepção indígena do Bem Viver?


Os aspectos centrais da concepção indígena do Bem Viver podemos resumir com cinco palavras-chave: utopia, comunidade, harmonia, simplicidade e ruptura. O Bem Viver (sumak kawsay) é uma utopia, muito próxima à utopia do Reino de Deus que em sua plenitude é escatológica. A utopia é crítica face à situação atual, com suas ideologias, falsas promessas e alienações e, como tal, não é um retrato de uma sociedade ao alcance de todos e todas aqui e agora, mas um dispositivo no imaginário da humanidade que faz as pessoas caminhar rumo a um futuro almejado e possível para todos e todas. Em doses homeopáticas e na simplicidade da vida cotidiana em comunidade, esse futuro já se revela na energia e na harmonia comunitárias, no viver como conviver e na ruptura (Patchakutik) com as patologias sistêmicas.





Como foi a origem dessa longa caminhada?

Iniciamos essa caminhada com “Consultas Latino-Americanas de Pastoral Indígena”. Percebemos que Brasil precisa caminhar em sua pastoral indigenista junto com os países, nos quais os povos indígenas representam um peso populacional maior. Tomamos contatos com as pastorais indígenas dos outros países e, em 1983, em Brasília, realizamos a Primeira Consulta Latino-Americana de Pastoral Indígena, com a participação de 15 países. Seguiram outras consultas e realizamos cursos do Norte ao Sul do Continente que mais tarde cederam lugar aos encontros de Teologia Índia. Percebemos que o protagonismo da Pastoral Indígena deve ser cada vez mais dos próprios povos indígenas e estes transformaram “nossa” pastoral indígena em “sua” teologia índia.


O primeiro Encontro Continental de Teologia Índia se realizou no México (1990) e trabalhou: “A metodologia da Teologia Índia”; o segundo aconteceu no Panamá (1993) e refletiu sobre “A experiência de Deus nos projetos de vida de nossos povos”; o terceiro, na Bolívia (1997), teve como tema: “Sabedoria indígena, fonte de esperança”; o quarto, no Paraguai, (2002), se colocou “Na busca da terra sem males”; o quinto, realizado no Brasil (Manaus 2006), dialogou sobre “A força dos pequenos, vida para o mundo”; o sexto, se celebrou em El Salvador (2009) e discutiu a “Mobilidade humana, desafio e esperança para nossos povos indígenas” e o sétimo encontro foi realizado, com a participação de 250 líderes indígenas, no Equador (2013), onde se aprofundou o tema “Sumak kawsay e vida plena”. O VIII Encontro Continental de Teologia Índia, provavelmente, vai ser celebrado na Argentina.



Espiritualidade em tempos de aflição: Retiro com Carlos Mesters no Cimi



Nos dias 2 e 3 de novembro, Carlos Mesters assessorou um retiro do Cimi como introdução à Assembleia Nacional (4 a 8.11.). Em tempos quase escatológicas contra os povos indígenas, sentimos a necessidade de repensar nossos fundamentos, nossa fé a serviço dos desacreditados, nossa esperança a serviço dos desesperados e nosso amor a serviço dos desprezados. Carlos, obrigado pelo refrão que você cantou conosco: “Eu confio em nosso Senhor, com fé, esperança e amor”. A seguir, alguns trechos do texto que Carlos preparou para os participantes e que logo poderá ser acessado no sitio (assessoria teológica) do Cimi: www.cimi.org.br

O DECÁLOGO DA RECUPERAÇÃO DA ESPERANÇA
Iluminar nossa realidade com a luz da Palavra de Deus
Esperar, Resistir, Cantar

Como continuar a crer que um menino vencerá o gigante Golias (1Sam 17,1-54), que a mulher em dores de parto será mais forte que o dragão (Apoc 12,1-17), os dois centavos da viúva continuam valendo mais que os milhões dos ricos (Mc 12,41-44), que as tribos indígenas e a sua cultura tem futuro e deverão enriquecer a vida de todos nós?

INTRODUÇÃO

A tragédia e a crise de hoje

A mensagem e o texto final do encontro dos bispos da Amazônia pelos 40 anos da Caminhada desde o encontro de Santarém em 1972 descreve os vários aspectos da tragédia da agressão ao meio-ambiente e as consequências para a vida dos povos da Amazônia.

As perguntas são muitas e muito sérias: Humanamente falando uma comunidade ribeirinha, uma tribo indígena, os pequenos grupos de migrantes que vieram de longe, nossas CEBs, os Círculos Bíblicos: qual a força que eles tem para enfrentar o agronegócio? Como eles podem impedir a agressão da invasão progressiva das suas terras e o desmatamento crescente? Como a mentalidade rural pode sobreviver no urbanismo crescente. Desde 2006 mais da metade da humanidade mora em cidades.

E nós que estamos aqui reunidos, como podemos impedir a caótica urbanização que gera tantas favelas e desumanização? Vamos poder resistir à expansão do sistema neoliberal? Como anunciar e irradiar a Boa Nova de Deus que Jesus os trouxe? Qual o nosso futuro? Existe futuro? E o novo papa Francisco? Os outros nos perguntam: "O que vocês querem e pretendem?" Onde manter viva e fé, a esperança e a doação no amor?

Na época do cativeiro da Babilônia, o pessoal de Nabucodonosor dizia ao povo de Deus: "Qual o Deus de vocês? Onde está esse Deus? Ele existe?" Estas perguntas tão antigas continuam muito atuais. Será que Davi vai conseguir enfrentar Golias? Os dois centavos da viúva continuam valendo mais que o milhão dos ricos? A mulher em dores de parto é capaz de enfrentar o Dragão de hoje? Como enfrentar esta crise?

A tragédia e a crise de ontem

Desatento de tudo, o povo permitiu que o cupim de uma falsa imagem de Deus fosse comendo por dentro a viga da sua fé. Ao longo dos 400 anos da monarquia (de 1000 a 600 aC), Javé, o Deus libertador, foi sendo reduzido à imagem de um Deus em tudo identificado com os interesses da monarquia, contrários aos interesses da vida do povo e do objetivo do Êxodo. Os profetas alertavam sobre o perigo, mas ninguém lhes dava atenção (Dn 9,6), pois havia muitos falsos profetas que diziam o contrário (Jr 28,1-11; Ez 34,1-10). Os Reis manipulavam a Aliança em favor dos seus próprios interesses comerciais. As consequências foram aparecendo na desintegração da vida do povo. Apareceram os pobres. Sinal de que a aliança estava quebrada. Pois se fosse observada, não poderiam aparecer os pobres. "Entre você não pode haver pobre!" (Dt 15,4-11).

A destruição do reino de Israel em 722 aC levou o reino de Judá a proclamar uma reforma que levasse o povo à observância da Lei: "Vejam! Hoje eu estou colocando diante de vocês a bênção e a maldição. A bênção, se vocês obedecerem aos mandamentos de Javé seu Deus, que eu hoje lhes ordeno. A maldição, se não obedecerem aos mandamentos de Javé seu Deus" (Dt 11,26-27). O capítulo 28 de Deuteronômio enumera as maldições como fruto das transgressões e da infidelidade (Dt 28,15-68). Coisas terríveis e castigos inacreditáveis são enumerados para obrigar o povo a observar a lei e, assim, evitar o desastre da desintegração. Prevaleceu o medo do castigo sobre a vontade de servir por amor. Não mudaram a imagem de Deus que tinha falsificado tudo.

Eles não deram conta de observar a lei. Morreu a reforma. Nabucodonosor destruiu tudo (2Rs 25,8-12; Jr 52,12-16). Perderam tudo aquilo que havia sido a expressão visível da presença de Deus: O Templo foi incendiado (2Rs 25,9). A Monarquia já não existia (2Rs 25,7). A Terra passou a ser a propriedade dos inimigos, (2Rs 25,12; Jr 39,10; 52,16). Deus parecia estar longe e já não lhes mostrava mais o seu rosto (Sl 10,1; Sl 12,2-4; 27,9; 30,8; 69,18; 80,4).

Diante desta terrível situação de destruição e abandono, o povo concluiu: colhemos o que plantamos. Abrimos as comportas e a água invadiu e destruiu tudo. Nós quebramos o contrato com Deus, e sobre nós caíram as maldições previstas no contrato (cf. Dt 28,15-68). Rompemos com Deus, e ele rompeu conosco conforme tinha avisado tantas vezes (cf. Dt 6,14-15; 9,11-14.19; 11,16-17). Esta situação de desespero e de desencanto está expressa, com todas as letras, na 3ª Lamentação. (Lam 3,1-18). A terrível imagem de Deus que transparece nas entrelinhas deste lamento é a de um deus vingativo que só quer castigar e não oferece futuro, nem desperta adoração: 

“Eu sou o homem que conheceu a dor de perto, sob o chicote da sua ira. Ele (Deus) me conduziu e me fez andar nas trevas e não na luz. Ele volve e revolve contra mim a sua mão, o dia todo. Consumiu minha carne e minha pele, e quebrou os meus ossos. Ao meu redor, armou um cerco de veneno e amargura, me fez morar nas trevas como os defuntos, enterrados há muito tempo. Cercou-me qual muro sem saída, e acorrentado, me prendeu. Clamar ou gritar de nada vale, ele está surdo à minha súplica. Com pedra cercou a minha estrada, distorceu o meu caminho. Ele foi para mim como urso de tocaia, um leão de emboscada. Desviou-me do caminho, me despedaçou e deixou inerte. Disparou seu arco, fez de mim o alvo de suas flechas. Em meus rins ele cravou suas flechas, tiradas de sua aljava. Eu me tornei uma piada para todos os povos, a gozação de todo o dia. Encheu meu estômago de amargura, embriagou-me de fel. Fez-me dar com os dentes numa pedra, estendeu-me na poeira. Fugiu a paz do meu espírito, a felicidade acabou. Eu digo: "Acabaram minhas forças e minha esperança em Javé". (Lam 3,1-18).

Esta terrível imagem de Deus falsificou a visão da vida e da natureza Quem tem esta imagem de Deus na cabeça e no coração, sente-se rejeitado para sempre. A falsa (antiquada) imagem do deus da monarquia impedia o povo de opinar corretamente sobre a tragédia do cativeiro. É trágica a afirmação de Isaías: "Sua mente enganada o iludiu, de modo que ele não consegue salvar a própria vida e nem é capaz de dizer: "Não será mentira isso que tenho nas mãos?" (Is 44,20). Eles eram incapazes de descobrir a mentira que os impedia de enxergar (cf. Jr 6,15; Sl 36,3; Rom 1,18).

Onde e como encontrar a luz?

Muitos se acomodaram no cativeiro, abandonaram a fé em Javé e aderiram ao Deus de Nabucodonosor ou ao deus do sistema neoliberal. Outros não quiseram aceitar a realidade dura do cativeiro e se agarraram ao passado. Preferiram lutar pelo retorno ao tempo dos reis: restaurar tudo do jeito que era antes.

As comunidades dos discípulos e discípulas de Isaías, porém, enfrentaram o desafio da dura realidade do cativeiro: O que será que Deus está querendo dizer a nós por meio desta escuridão terrível de total abandono de Deus em que nos encontramos aqui no cativeiro?

Qual a falsa imagem de Deus que hoje está por detrás do sistema neoliberal e da lenta e progressiva secularização da vida dos últimos duzentos anos? Qual a imagem de Deus que estava por de trás da leitura errada da Bíblia legitimando a depredação da natureza? Qual a imagem de Deus que está por de trás do progresso da ciência? Muitos cientistas se dizem ateus. Talvez tenham razão, pois o Deus que eles dizem não existir de fato não existe. Saramago que se dizia ateu disse esta frase: "Deus é o silêncio do Universo; o ser humano é o grito que tenta interpretar o silêncio".

Estrutura do resto do texto:

OS DEZ PASSOS DO LONGO CAMINHO

A lição dos Profetas
1. A nova leitura da natureza: salmo 104
2. A redescoberta do Amor Eterno: salmo 103
3. A nova imagem de Deus: Deus de família: salmo 146
4. O processo da releitura e de repensar todas as coisas: salmo 107
5. Os dois decálogos: da Aliança e da Criação: "Assim na terra como no céu!" salmo 19
6. Os dois Livros de Deus: Natureza e Bíblia, uma nova síntese:  salmo 65
7. A nova Missão do povo de Deus: servir:  salmo 15
8. Uma nova pastoral: ternura, diálogo, reunião e consciência crítica: salmo 34
9. Uma nova maneira de celebrar a vida: a lição dos salmos: salmo 95
10. O ponto de chegada em Jesus: salmo 72

O PONTO DE CHEGADA EM JESUS
Jesus confirma o caminho percorrido
1. Jesus refaz o relacionamento humano na base, na "Casa"
2. Recupera a dimensão sagrada e festiva da Casa
3. Reconstrói a vida comunitária nos povoados da Galiléia
4. Cuida dos doentes e acolhe os excluídos
5. Recupera igualdade homem e mulher
6. Vai ao encontro das pessoas
7. Supera as barreiras de gênero, religião, raça e classe

CONCLUSÃO
Jesus, luz para iluminar a caminhada
1. Filho do homem
2. Servo de Deus
3. Redentor dos irmãos


[elaboração do texto no sitio do Cimi/Assessoria Teológica: www.cimi.org.br ]

O altar vazio - Chega de lamento! Vamos fazer algo!


Igreja católica na Amazônia Legal


 

Com a leitura da Carta Final, encerrou-se na manhã de quinta-feira, 31 de outubro, o I Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal.
A Carta enviada às comunidades aborda desafios como a construção de hidrelétricas, a prostituição infantil, o tráfico de pessoas e de órgãos, o desmatamento, as lutas dos povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos, dentre outras. Mais uma vez lamentam os autores da Carta
“uma profunda dor ver milhares de nossas comunidades excluídas da eucaristia dominical. A maioria delas só tem a graça de celebrar o Memorial da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor uma, duas ou três vezes ao ano. O Senhor, na véspera de sua morte, não deu um bom conselho, mas um mandato explícito: “Fazei isto em minha memória” (1 Cor 11,24; Lc 22,19). O Decreto “Presbyterorum Ordinis” do Concílio Vaticano II declara que a Eucaristia é fonte e, ao mesmo tempo, ápice de toda a Evangelização (cf. PO 5). “Nenhuma comunidade cristã se edifica sem ter a sua raiz e o seu centro na celebração da santíssima Eucaristia, a partir da qual, portanto, deve começar toda a educação do espírito comunitário” (PO 6). Também a Constituição Dogmática “Lumen Gentium” fala da Eucaristia como “fonte” e “ponto culminante de todas a vida cristã” (LG 11). Torna-se urgentemente necessário criar estruturas em nossa Igreja para que os 70% de comunidades, que hoje estão excluídos da celebração eucarística dominical, possam participar da “fração do pão” (At 1,42), do “sacramento da piedade, sinal de unidade, vínculo da caridade, banquete pascal” (SC 47).”
Quando cheguei na Amazônia, em 1966, nosso bispo de Óbidos, Dom Floriano Löwenau, ofm, nos falou dos viri probati que, como fruto do Vaticano II, devemos preparar para nossas comunidades sem eucaristia e cujo raio de ação pastoral seria logo definido. Passaram-se mais de 40 anos e nada aconteceu. Os mesmos lamentos do altar vazio (cf. o livro de Fritz Lobinger), de comunidades sem eucaristia, da escassez ministerial ordenado, do crescimento de Igrejas evangélicas fundamentalistas e de uma Igreja católica em contradição com aquilo que ela definiu no Vaticano II: “Nenhuma comunidade cristã se edifica sem ter a sua raiz e o seu centro na celebração da santíssima Eucaristia” (PO 5). Se alguém morresse por causa do jejum eucarístico teríamos muitos mortos na Amazônia! O tratado sacramental precisa ser reelaborado! Chega de lamento. A Igreja tem o direito de privar as comunidades da Eucaristia?