Igrejas preocupadas com a difusão do uso de 'drones'


Genebra (RV) – O Conselho Mundial das Igrejas (CMI) condena a utilização de veículos aéreos não tripulados, conhecidos como ‘drones’, considerando-os ‘uma série ameaça para a humanidade’.



O comitê do CMI se reuniu nos últimos dias no Centro Ecumênico de Bossey, na Suíça, e emitiu um comunicado sublinhando que o uso desta tecnologia está permitindo países como Estados Unidos, Israel, Rússia e Reino Unido desenvolver sistemas que darão plena autonomia de combate a estas máquinas telecomandadas. 

A utilização de ‘drones’ começou na guerra dos Bálcãs e foi aumentando no Afeganistão, Iraque, Iêmen, Somália, e recentemente, no Paquistão. 

O comitê exorta os governos a respeitar e reconhecer o dever de proteger o direito à vida de seus cidadãos, e opor-se à violação dos direitos humanos, convidando a comunidade internacional a se opor às políticas e práticas ilegítimas. 

Em novembro passado, o Arcebispo Silvano Maria Tommasi, Representante Permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, se disse preocupado pelo uso de ‘drones’: “Nos últimos anos – declarou – o emprego destes aviões em conflitos armados e ações bélicas internacionais aumentou de modo exponencial. Para certos líderes, os fatores sociais, políticos, econômicos e militares podem ter modificado a equação sobre o uso de ‘drones’ armados, mas as preocupações éticas e humanitárias continuam grandes e aumentam em proporção com a sua utilização”.
Na realidade brasileira passou quase despercebido a compra da Titan Aerospace, fabricante de veículos aéreos não tripulados, conhecidos como drones. Nessa compra, o Google venceu o Facebook de Mark Zuckerberg que estava negociando a compra da Titan por US$ 60 milhões. Os novos "Titanos" de hoje, amanhã serão nossos tiranos.



Em Nota, CNBB defende os direitos dos povos indígenas


A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou hoje, dia 23, nota manifestando a preocupação da entidade em relação aos direitos dos povos indígenas, após decisões da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) de anular os efeitos de portarias do Ministério da Justiça que reconheciam territórios ocupados por povos indígenas no Maranhão e no Mato Grosso do Sul. O texto foi aprovado pelo Conselho Permanente da Conferência, que esteve reunido em Brasília, de 21 a 23 de outubro. "A CNBB espera que não haja retrocesso na conquista dos diretos indígenas, especialmente quanto à demarcação de seus territórios", afirma a nota.

Leia o texto na íntegra:
  
Os direitos dos povos indígenas
Nota da CNBB


O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em Brasília nos dias 21 a 23 de outubro de 2014, manifesta sua preocupação com a decisão da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal-STF que anulou os efeitos da Portaria Declaratória nº 3.219/2009, do Ministério da Justiça, que reconhece a Terra Indígena Guyraroká, do Povo Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, como de ocupação tradicional indígena.
Lamenta, igualmente, a anulação, pela mesma 2ª Turma do STF, da Portaria 3.508/2009 que declara a Terra Indígena Porquinhos, no Maranhão, como de posse permanente do grupo indígena Canela-Apãniekra.
A garantia dos territórios aos povos indígenas é um direito conquistado e consignado na Constituição Federal, com árdua luta de muitas pessoas da sociedade brasileira. Infelizmente, interesses econômicos têm impedido a demarcação das terras indígenas, que é a concretização do direito constitucional. Por isso, grande parte dos povos indígenas do Brasil continua vivendo exilada de suas terras devido ao esbulho e à violência histórica cometida contra suas comunidades.
Questionar as demarcações das terras indígenas no poder judiciário tem sido uma estratégia utilizada com vistas a retardar ou paralisar as ações que visam à garantia de acesso dos povos originários aos seus territórios tradicionais. Enquanto aguardam a demarcação de suas terras, várias comunidades indígenas ficam acampadas à beira de rodovias ou nas poucas áreas de mata nos fundos de propriedades rurais, sem direito à saúde, à educação, a água potável, sofrendo ações violentas.
A CNBB espera que não haja retrocesso na conquista dos direitos indígenas, especialmente quanto à demarcação de seus territórios. Concluir o processo de demarcação das terras indígenas é saldar uma dívida histórica com os primeiros habitantes de nosso país e decretar a paz onde há graves conflitos que vitimam inúmeras pessoas.
Que Deus nos dê forças para garantir os direitos dos povos indígenas e de todos os brasileiros, superando toda atitude de abandono e descarte das populações originárias. Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, nos ajude a construir a paz que nasce da justiça e do amor.
Brasília, 23 de outubro de 2014

  
Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB
  

Dom José Belisário da Silva

O mito à procura de sua história: V Simpósio de Teologia Índia em San Cristóbal de Las Casas, Chiapas, México.




Do dia 13 a 18 de outubro 2014 está se realizando o V Simpósio de Teologia Índia em San Cristóbal de Las Casas (Chiapas, México). O evento está sendo organizado pelo Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano).O tema, ainda considerado polêmico, trata "A revelação de Deus e a Teologia Índia". Os teólogos presentes trabalham o tema já em outra perspectiva: "A Teologia Índia como Teologia Fundamental da Igreja Católica". Em tese, também os bispos presentes, que trabalham em áreas indígenas, apoiam essa reformulação.


Caminhos abertos
na teologia da revelação

        
Celebração eucarística na Igreja San Diego, Chiapas
A tentativa de construir uma ponte entre a percepção da revelação cristã, que se formou no decorrer dos séculos, e a revelação de Deus no meio de todos os povos, aponta para o reconhecimento da subjetividade dos povos indígenas, para a inculturação de seu universo religioso e a descolonização da própria Igreja. Esse reconhecimento que procura tratar os povos indígenas não somente como destinatários da missão e da revelação cristã, mas também como interlocutores, não é algo exterior à normatividade do cristianismo, portanto, uma medida estratégica ou tática para defender a causa dos pobres e a dos povos indígenas, mas é inerente aos imperativos do Evangelho. O conceito da “revelação” não é propriedade de nenhuma denominação religiosa, mas todas as denominações podem definir esse conceito segundo a sua história, seu contexto e seus discernimentos.
       
Os participantes do evento: Indígenas e Bispos e Teólogos e Teólogas
  
    Jesus Cristo é não apenas aquele que veio, mas também aquele que virá, não somente como juiz, mas como revelador definitivo do Pai e doador da graça da unidade no Espírito Santo. Nessa perspectiva pode-se pensar o cumprimento definitivo do sentido profundo da revelação: tirar o véu das contingencias históricas. Deus vai tirar o véu de Seu mistério e todos verão a Deus face a face. A absoluta transcendência se tornará palpável na absoluta proximidade.

[O texto faz parte da minha contribuição no V Simpósio de Teología India: “Revelación de Dios y Pueblos Originarios”, realizado em Chiapas, México (13-18.10.2014). P.S.]




Dom Tomás Balduino no ritual dos índios Krahô



Choro Kraô (fotos: Laila Menezes)















“Ele está aqui. Eu vi. Uma pessoa quando morre fica entre nós ele não foi embora. Ele está aqui. Ele está olhando por nós. São poucos os que ajudam os povos indígenas. Tem que continuar o trabalho, a luta de D. Tomás.”



Gercília Krahô, importante liderança do povo, recebeu, na nova aldeia,  com muito carinho, parentes e amigos de D. Tomás, que ela tinha como tio. Para o povo Krahô o tio tem uma relevância tão importante no papel da formação social quanto o pai.





A homenagem ritual Amjĩkĩn Pàrcahàc acontece como finalização de luto de um parente e neste caso seu inesquecível amigo Tomás. Este ritual compreende momentos marcantes de noites acordados embalados pelos cantos no pátio, pinturas corporais, os cortes de cabelos e a corrida com a tora de buriti que simboliza o corpo de D. Tomas.  
Esse corpo pintado e empenado percorre o pátio nos ombros dos indígenas e em seguida levado a casa de Gercília, onde é  envolto  em um pano e logo depois despido para que as mulheres possam se despedir através do choro ritual, um lamento profundo de lagrimas e soluços que toca e faz chorar muitos presentes.

O cerrado já se vestia de verde e o rio se tingia de Vermelho para participar desse momento ímpar da memória de um de seus filhos e defensores intransigente e radicalmente comprometido com a diversidade de vida, povos e comunidades originárias deste Brasil central.

Cenário perfeito para um grande e inesquecível acontecimento. Beleza e simplicidade, alegria e lágrimas, gestos profundos de espiritualidade ritual. A celebração da memória de um “kupen” (não indígena) na aldeia é mais do que uma excepcionalidade, é um gesto de reconhecimento da permanência dentre eles.



Presentes e compromisso

Um dos momentos marcantes do ritual Amjĩkĩn Pàrcahàc foi quando Dom Eugênio, bispo de Goiás entregou à comunidade, através de Gercília umas lembranças de D. Tomás – uma cruz simbolizando os mártires latino-americanos e uma vistosa estola, que ela imediatamente vestiu. Era mais do que memória. Foi o selado o compromisso da continuidade do trabalho em defesa da vida e dos direitos dos povos indígenas, em especial com os “mehin” (Krahô).


De longe se ouvia a cantoria ritual no centro do pátio da aldeia. Era o último dia da celebração. Gercília se aproximou de D. Eugênio, e num gesto perdido na noite, carregada de harmonia, revezando silêncios e maravilhoso cantos, tirou o colar que trazia no pescoço e colocou-o no bispo dizendo “Agora você é compadre de D. Tomás”. Umas rápidas palavras e estava selado o compromisso.

D. Eugênio declarou que sempre teve muita admiração por D. Tomás, pelos seus trabalhos, pela sua luta. Por essa razão estava junto aos Krahô, com o pessoal do Cimi, CPT e outros amigos de D. Tomás. “Simpatizo com a causa indígena e da terra. É preciso defender essa gente e os empobrecidos da terra”. Disse ter achado ótima essa oportunidade de conhecer um pouco mais da cultura indígena.

O massacre continua

No decorrer dos três dias celebrativos inúmeros depoimentos foram sendo desfilados, todos eles marcados por profunda indignação e revolta, pelas violências, omissões, preconceitos e massacres. Isabel Xerente verberou “Vão entrar em nossas terras (grandes projetos) para massacrar. Nois vivemos lutando por todos. Tenho essas borduna pra dará na cabeça”.

Vários depoimentos lembraram o avanço do agronegócio, destruindo as matas, poluindo os rios. As monoculturas da soja, do eucalipto, do gado acaba envenenando e matando a terra e os animais. Os rios estão secando.

Foi lembrada a brava resistência das comunidades indígenas diante das políticas desenvolvimentistas do atual governo com as rodovias, hidrovias, hidrelétricas, dentre outros. Porém nós indígenas somos a semente e as plantinhas dessa terra. Vamos continuar lutando. Vamos nos unir com os pobres. Vamos lutar unidos.
O povo Krahô, que faz parte da grande nação Timbira, são hoje em torno de 3.200 pessoas vivendo em 28 aldeias nos municípios de Goiatins e Itacajá no Tocantins.

Gratidão e alegria.


O ritual que marcou o fim do luto de D. Tomás entre os Krahô, também nos traz a certeza de sua presença e a continuidade de sua luta entre nós e da vitória dos povos originários do país e do continente latino-americano.

Brasília, 1º de outubro de 2014
Cimi GOTO
Egon Heck