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Carta de uma militante para o Dia das Mães

Doroti Müller Schwade, nos anos 70 coordinadora do Cimi-Amazônia Ocidental,  faria hoje 63 anos. 13 de março de 1977, depois de 51 dias nos rios Acre e Amazonas fazendo um levantamento da situação das comunidades indígenas e seringueiras, escreveu:
 
Rio Branco, 13 de março de 1977.

Querida mãe,

Depois de 51 dias viajando chego a Rio Branco e encontro a correspondência e entre as cartas a tua. Mãe, eu sinto contigo, sofro contigo, não te culpo nem a meus irmãos e irmãs tampouco. Todos nós somos participantes de uma geração angustiada e que perdeu seu “principio velho”. Todos nós pertencemos a uma sociedade que corrompe, onde ficou o lucro como deus soberano. Este sistema que endeusou o lucro e usou todos os meios disponíveis (sexo, injustiça de toda a espécie, engano, desonestidade) para tornar o homem apenas produtivo (que trabalha para produzir bens) e consumidor (que consuma, luxe, viva comprando). Tudo isto criou conflitos de gerações. Tudo isto fez a família se quebrar. A gente viajando nos confins desta região percebe que isto tudo acontece também aqui. Este sistema corruptor não deixa escapar ninguém.

Mãe, sei que a senhora sofre, sei que meus irmãos e irmãs também. Mãe, também sei que milhares de famílias sofrem por motivos semelhantes.

Poucos percebem que estes sofrimentos não são particulares, mas de todo o povo que está enganado por um sistema podre. Só agora entendo todo o seu sofrimento, a senhora quis quebrar esta corrente de paganismo, mas nós não entendemos. Nós não podíamos entender porque estávamos afundados nesta sociedade. Ela nos penetrava a alma por todos os poros. Agora sei também que não é possível quebrar estas correntes se não for em trabalho social, não só na nossa família, mas tentarmos estar voltados para tudo e todos que nos cercam.

Mãe é isto que eu estou fazendo, ou melhor, que tento fazer. Tento quebrar estas cadeias injustas que esmagam e corrompem o homem. Não o faço sozinha, não. Na Igreja surge gente de todo o lado que trabalha nesta esperança. Cristo continua vivo e muita gente está procurando viver esta fé, dar testemunho desta esperança de um modo radical. Sabe mãe, tua filha tem servido para fazer despertar muita gente, até padres e bispos e freiras têm sido ajudados a despertar, pelas graças que tenho recebido. Mãe, tua filha não está fanatizada não. Apenas aceitei o desafio que meu coração sempre sentiu: arriscar a própria segurança para ajudar o homem, principalmente aquele mais desprezado e oprimido. Este desafio que eu aceitei me trouxe em troca o conhecimento mais profundo de Cristo, nosso Mestre. É isto que tua filha tem vivido, tem buscado com muita força. Existe esperança para que os homens todos não precisem empurrar um dia após o outro, mas tenham alegria de viver.

Mãe, compreendo teu sofrimento, mas sei que ele não é em vão e tu também encontrarás a alegria de viver, esta alegria que o mundo de hoje nega a todas as pessoas. Não pense que o que acontece em nossa família é só conosco. Milhões de pessoas estão se batendo neste mar de angústias. Talvez, tu sofras mais porque és sensível e sempre desejaste viver cristãmente. Mãe tenha esperança. Teu sofrimento não é em vão. Sempre que sentires necessidade desabafe, conte para a gente teu sofrimento. Quando eu puder vou-te visitar, mãe. Agora, nestes meses, não é possível, porque estamos fazendo levantamentos e preparando cursos para os agentes pastorais deste regional. Tenho andado muito para entrar em contato direto tanto com os índios, como com os padres e outras pessoas que devem trabalhar para que haja mais justiça. Até outubro eu irei te ver, se der antes, eu te prometo que irei. Pelo respeito que te tenho peço tua bênção e amor.

Tua filha Doroti.
 
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Presidenta da SBPC, Helena Nader,
na 64ª reunião, em São Luís
(Foto: Flora Dolores/O Estado)
A presidenta da SBPC, Helena Nader, disse, dia 27.7.2012, que a entidade vai enviar ao governo federal documento com propostas para a proteção dos saberes tradicionais. “Esse diálogo não pode ser perdido, deve ser intensificado. Tenho insistido na proteção dos saberes tradicionais. Na eventualidade de gerar um produto, uma inovação, deve haver um retorno para aquele que tem o saber. O conhecimento foi conservado por comunidades e hoje ainda não existe uma proteção clara”, disse. Nader destacou a participação popular no evento, que termina hoje. “Houve uma participação significativa da comunidade. Muitas vezes temos uma grande palestra e a plateia parece morta. Este ano, tivemos um envolvimento muito forte do público.”
De acordo com o reitor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Natalino Salgado, um dos temas com maior destaque na reunião foi o conflito entre a comunidade quilombola e a instalação do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). “Esse é um dos nossos encaminhamentos da universidade. Vamos fazer reuniões no local sobre o assunto e intermediar a situação que é muito crítica”, disse à Agência Brasil.
Ele salientou que a reunião serviu para popularizar as áreas de ciência e tecnologia no estado. “Tivemos uma frequência acima da média, com a presença de jovens, crianças com seus pais e muitas pessoas da terceira idade. Essa mobilização sobretudo divulgou a ciência para a comunidade com foco cultural, nos conhecimentos tradicionais que podem gerar renda e ajudar no desenvolvimento econômico e social do nosso país.” 
valorizar o saber tradicional
De acordo com a organização do evento, 25 mil pessoas de 700 cidades de todos os estados circularam diariamente pelo evento, que termina hoje. Dos 4.816 trabalhos registrados, 4.009 foram aceitos. Do número global, 189 trabalhos foram apresentados por estudantes do ensino médio ou profissionalizante.
As duas próximas reuniões da SBPC já estão marcadas. Em 2013, o encontro acontecerá na segunda quinzena de julho no Recife, em Pernambuco. Em 2014, a reunião será na cidade de Rio Branco, no Acre.
[A reportagem é de Heloisa Cristaldo e publicada pela Agência Brasil – EBC e IHU]


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